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ELN: cessar-fogo favoreceria processo de paz com governo da Colômbia

Para o ELN, um cessar-fogo favoreceria o recém-iniciado processo de paz com o governo colombiano, que só será irreversível se houver decisão de melhorar a vida das pessoas, disse neste sábado, em Caracas, o comandante guerrilheiro Antonio García

"Há um amplo campo de ação que permitiria gerar um ambiente favorável (para os diálogos), mas o governo se opôs", disse o chefe das negociações em entrevista à AFP, referindo-se a uma suspensão bilateral das hostilidades.

O presidente Juan Manuel Santos considera que o cessar-fogo proposto pelo Exército de Libertação Nacional (ELN, guevarista) seria aproveitado pelo grupo para se fortalecer, mas García sugere, inclusive, que permitiria por fim aos sequestros.

"Estamos abertos, mas este não é um tema de gestos, trata-se de que as duas partes tenhamos vontade de gerar dinâmicas que favoreçam a sociedade", afirmou, em declarações por telefone, sobre a possibilidade de que o ELN suspenda unilateralmente a tomada de reféns civis e militares.

García mostrou-se otimista de que o cessar-fogo definitivo negociado entre o governo e a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em Cuba auspicie um pacto similar com o ELN.

Reconhecimento das vítimas
Mas o líder rebelde afirmou que por enquanto não vê vontade do governo para deter a "perseguição política, os assassinatos e a criminalização do protesto social".

"Mantém uma atitude de imposição, como se fosse um processo de submissão", disse.

O governo Santos e o ELN - a segunda guerrilha colombiana depois das Farc - anunciaram na quarta-feira em Caracas o início de um processo de paz para por fim a meio século de guerra, em torno de seis pontos e com a participação, como garantidores, de Brasil, Equador - onde a mesa será montada -, Chile, Cuba, Noruega e Venezuela.

García manifestou, por outro lado, que os mecanismos de reparação devem ser definidos pelas vítimas, entendendo que o ELN não é o único responsável.

"Se no âmbito do trabalho com as vítimas, o ELN tiver algo a esclarecer, a reconhecer, estamos muito dispostos, mas a transição para a legalidade não quer dizer de entrada que é um vitimário", afirmou, destacando que o grupo per se não está "pactuando para ir à prisão".

O referendamento dos acordos também é um ponto de interesse para a guerrilha. O instrumento se concertará para "consolidar o pactuado", disse.

A guerra continua
Por outro lado, García minimizou o recente pedido da Procuradoria de processar os dirigentes do ELN por crimes de guerra relacionados a ataques contra oleodutos na última década, que teriam provocado 45 bilhões de dólares em perdas e danos ambientais.

"A Procuradoria faz parte do sistema de guerra judicial contra os quais nos afastamos da política do Estado", destacou.

O porta-voz admitiu que os ataques causaram danos em algumas partes, mas "tem se avançado para que estas ações não tenham impacto ambiental".

São executados "para defender um recurso quando não está sendo explorado de forma favorável às comunidades, à Nação", justificou.

García denunciou uma "coincidência não gratuita" entre as ações dos "neoparamilitares" e a oposição ao processo de paz de parte do ex-presidente Álvaro Uribe, que neste sábado liderou uma marcha contra o governo Santos.

O ELN acredita que o "renascer do paramilitarismo" poderia ser o principal obstáculo para a paz.

Além disso, o dirigente considerou que a luta armada na Colômbia permanecerá em vigor enquanto a oposição for perseguida, presa e assassinada, e destacou que o processo de paz ainda não é irreversível.

Vai ser "na medida em que haja vontade no governo de criar novas circunstâncias para a vida dos colombianos, de gerar outras lógicas políticas. Quando se avançar nos acordos será possível avaliar isto, mas por enquanto Santos foi claro em que aqui continua o confronto contra o ELN", afirmou.

Fundado em 1964, o ELN tem 1.500 combatentes, mas conta com uma ampla rede de apoio de milicianos e simpatizantes, segundo fontes oficiais.