O presidente sírio, Bashar al-Assad, defendeu nesta quarta-feira (30/3) um governo de transição que reúna as forças pró-regime e opositoras, uma ideia imediatamente rejeitada pela oposição, que exige que o chefe de governo deixe o poder.
Em uma entrevista à agência de notícias pública russa Ria Novosti, Assad considerou que seria "lógico que as forças independentes, assim como as forças de oposição, e as que são leais ao poder, estivessem representadas", e se disse confiante nas negociações de paz de Genebra para "resolver" a questão da distribuição de pastas ministeriais.
Do lado oposto, o chefe da delegação de oposição nas negociações de Genebra, Assaad al-Zoabi, declarou à AFP que "as resoluções internacionais falam (...) da formação de um órgão de transição dotado de plenos poderes, incluindo poderes presidenciais (...) Assad não deve permanecer sequer uma hora a mais após a formação" deste órgão.
Já o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, estimou que o presidente sírio não deve integrar qualquer governo provisório de união, considerando "estar fora de questão" tal participação.
O presidente sírio tem sofrido pressão internacional para incluir representantes da oposição no "órgão de transição" que, segundo o roteiro determinado pela ONU, deve ser elaborado durante as negociações de Genebra.
O papel deste órgão de transição - um governo estendido segundo o regime, um órgão de plenos poderes no qual Assad não teria qualquer participação segundo a oposição - constitui um dos principais pontos de bloqueio.
O presidente sírio também considerou que "um projeto de Constituição", igualmente exigido pela ONU, poderia ser elaborado em algumas semanas. Moscou e Washington esperam um esboço de projeto até agosto.
O presidente sírio também afirmou que os danos materiais provocados no país pela guerra desde seu início, em 2011, superaram os 200 bilhões de dólares, e anunciou que as empresas dos principais aliados da Síria - Rússia, Irã e China - serão as primeiras convidadas a participar na reconstrução do país.
;Aumento da solidariedade;
Enquanto a primeira rodada de negociações indiretas entre Damasco e representantes da oposição terminou em Genebra, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, clamou nesta quarta-feira por "um aumento exponencial da solidariedade global" frente a crise migratória provocada pelo conflito sírio.
Ban indicou que pelo menos 480.000 sírios, 10% de todos os refugiados e deslocados que já fugiram do conflito, precisam encontrar um país terceiro nos próximos três anos.
"Os vizinhos da Síria demonstraram uma hospitalidade excepcional", disse ele. O Líbano recebeu mais de um milhão de sírios, a Turquia mais de 2,7 milhões e a Jordânia mais de 600.000, ressaltou.
Em comparação, segundo um relatório divulgado na terça-feira pela ONG britânica Oxfam, os países ricos absorveram apenas 67.100 refugiados sírios, ou 1,39% do total.
O alto comissário da ONU para os refugiados, Filippo Grandi, ressaltou, por sua vez, que as condições de vida nos países vizinhos da Síria são "cada vez mais difíceis". Ele indicou que 90% dos refugiados sírios vivem abaixo da linha da pobreza e pelo menos 10% deles foram considerados "extremamente vulneráveis".
Em uma alusão ao acordo entre a UE e a Turquia sobre o reenvio de novos migrantes que chegam na Grécia, ele considerou ser impossível "responder a uma crise de refugiados global (...), fechando portas e erguendo barreiras".
Sobre este ponto, Ban Ki-moon expressou uma visão mais matizada, dizendo "apreciar realmente" o acordo, que ele descreveu como "bom começo."
Ofensiva militar
No terreno, as tropas do regime de Damasco continuavam sua ofensiva contra o grupo Estado Islâmico (EI) no centro da Síria após a reconquista da cidade de Palmira, completamente abandonada por seus habitantes.
Intensos combates foram registrados nesta quarta-feira em torno de Al-Qaryatayn, uma cidade predominantemente sunita localizada 120 km a oeste de Palmira e controlada pelo EI.
O exército tenta retomar seu controle para proteger Palmira e prevenir contra-ataques dos extremistas.
A força aérea síria também realizou ataques aéreo em Sokhné (leste de Palmira), onde os jihadistas entrincheiraram-se.
Se o regime tomar o controle da cidade, estaria às portas da província petrolífera de Deir Ezzor (leste), em grande parte controlada pelo EI.