À medida que avançam as investigações sobre os ataques de terça-feira na Bélgica, autoridades europeias se deparam com mais evidências de que a célula terrorista que atuou no país possuía tentáculos mais longos e abrangentes do que o imaginado. A promotoria belga informou ontem que vestígios de DNA detectados em um colete de explosivos e em um pedaço de pano encontrados no teatro Bataclan, um dos alvos dos atentados de novembro passado em Paris, correspondem com o registro genético de Najim Laachraoui, um dos homens-bomba que agiram no ataque ao aeroporto de Bruxelas, na última terça-feira. A evidência confirma a conexão entre os dois episódios e reforça a suspeita de que se tratava de uma célula significativamente organizada.
Laachraoui, 24 anos, era cidadão belga e viajou à Síria em 2013. Formado em eletromecânica, ele seria um dos fabricantes de bombas da célula que executou os atentados na França. O jovem foi descrito como um dos cúmplices de Salah Abdeslam, suposto mentor dos atos terroristas, capturado pela polícia belga na semana passada.
Autoridades de Bruxelas suspeitam do envolvimento de Abdeslam nas explosões de terça-feira, e teriam mostrado ao prisioneiro imagens dos autores da ação suicida na capital belga.Segundo o ministro da Justiça, Koen Geen, Abdeslam deixou de cooperar com os investigadores após os atentados. ;O procurador federal me informou que Abdeslam não quer falar desde os ataques;, relatou Geen ao parlamento.
A divulgação de novas informações que ligam as ações em Paris e em Bruxelas se sucede a operações de segurança e detenções na região. Depois de capturar seis suspeitos, na noite de quinta-feira, a polícia belga baleou e prendeu um homem no distrito de Schaerkeek. Segundo o jornal britânico The Guardian, a ação estaria relacionada com as investigações sobre planos para um novo ataque em Paris, frustrados por autoridades francesas.
Na Alemanha, mais dois suspeitos de participar dos ataques de Bruxelas foram detidos na região de Düsseldorf. A revista Der Spiegel informou que um deles foi identificado como Samir E., membro da comunidade salafista local. Ele tinha sido preso pela polícia turca, nos arredores da fronteira com a Síria, no mesmo período da captura de Ibrahim El-Bakraoui, outro suicida que se explodiu no aeroporto de Bruxelas.
Repúdio
Paralelamente à caçada dos terroristas, membros da comunidade muçulmana belga defenderam o combate à radicalização e ao jihadismo. ;Hoje (sexta-feira) mesmo lançamos um programa contra a radicalização, sobretudo a dos jovens. Temos de tentar nos aproximar da população;, disse Ndiaye Mouhameth Galaye, um dos imãs da Grande Mesquita de Bruxelas. ;Já condenamos o bastante. Agora, é preciso agir.;
A Bélgica é o país europeu que mais exportou jovens muçulmanos para a Síria e o Iraque, onde organizações terroristas os recebem para treinamento militar. Galaye observou que, ;dos 400 ou 500 jovens; que viajaram à região, ;não havia um; que tivesse estudado o islã na mesquita que frequentava. O líder religioso planeja oferecer cursos específicos para os jovens e oferecer assistência aos pais que descobrem que os filhos estão se radicalizando.
Ameaça atômica
Em meio às suspeitas de que os extremistas planejavam um ataque contra uma usina nuclear, o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, órgão da ONU), Yukiya Amano, alertou os países europeus para o risco que ronda o setor e pediu o reforço da segurança nas instalações. ;O terrorismo se estende e não se pode excluir a possibilidade de que utilizem material atômico. O maior problema são os países que não reconhecem o risco do terrorismo nuclear;, ponderou, em entrevista à agência de notícias France-Presse.
Amano destacou que, além do perigo de um ataque direto a uma das cerca de mil instalações nucleares que existem em todo o mundo, há o risco de roubo de material radioativo. O diretor da AIEA explicou que uma quantidade de plutônio equivalente à massa de uma fruta grande é suficiente para fazer uma bomba atômica rudimentar, algo que ;já não é impossível;. ;É uma tecnologia velha e, hoje em dia, os terroristas têm os recursos, o conhecimento e a informação necessários;, lembrou.
A questão será tema de uma conferência sediada em Washington, entre 31 de março e 1; de abril, com a participação de 50 países convidados.
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