Uma pergunta feita por uma juíza da Espanha tem causado revolta das defensoras dos direitos das mulheres no país. A associação feminista Clara Campoamor denunciou a magistrada María del Carmen Molina Mansilla, do Juizado de Violencia sobre a Mulher I, de Vitoria, no País Basco, por ela ter se dirigido a uma vítima de violência sexual, grávida de quatro meses, com a indagação: ;você fechou bem as pernas?;.
Em publicação no site da Clara Campoamor, intitulada Não fechamos as pernas nem a boca, a presidente da associação, Blanca Estrella Ruiz Ungo, afirma que o comportamento da juíza é ;habitual e contínuo;. Ela acrescenta que houve ;múltiplas queixas por parte de mulheres vítimas; por causa do ;sentimento de mal-estar gerado pela revitimização de que são objeto;.
A associação também pede ao Conselho Geral do Poder Judicial (CGPJ) a suspensão da magistrada por tratar de maneira ;completamente ofensiva; e atentar contra a dignidade de uma mulher ;previamente maltratada;.
A audiência na qual a juíza disse a frase ocorreu em 16 de fevereiro. Durante toda a sessão, gravada em vídeo, a magistrada teria se mostrado predisposta a não crer no testemunho da denunciante e a interpelava sem deixá-la terminar a resposta, com perguntas sugestivas. Ao questionar a vítima sobre uma resistência ao ataque sexual, perguntou se ela havia fechado bem as pernas. E prosseguiu: ;Fechou toda a parte dos órgãos femininos?".
A presidente da associação feminista aponta que "a mujer, atônita, só pôde responder que sim", e considera a tal pergunta desnecessária.
Denúncias incompletas
O medo de ser culpabilizada é uma das principais razões pelas quais mulheres não dão continuidade a denúncias de crimes como maus-tratos e violências doméstica e sexual. No último mês de novembro, o juíz canadense Robin Camp foi expulso de um caso de estupro depois de perguntar a uma jovem de 19 anos "por que não abaixou o bumbum para evitar ser penetrada?".