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'Precisamos reafirmar os valores humanos', diz líder humanitário ao Correio

Ravi Shankar foi indicado quatro vezes ao Prêmio Nobel da Paz e considerado por muitos um guru- mestre espiritual



Cerca de mil brasileiros - de diferentes cidades, incluindo Recife e Brasília- estão na Índia para participar da maior meditação em número de pessoas já ocorrida no planeta, integrante das comemorações dos 35 anos da organização internacional Arte de Viver, no Festival da Cultura Mundial. São esperadas 3,5 milhões de pessoas de todo o mundo na capital indiana, Delhi, de 11 a 13 de março. O motor desse mega evento é o indiano Sri Sri Ravi Shankar, líder humanitário indicado quatro vezes ao Prêmio Nobel da Paz e considerado por muitos um guru- mestre espiritual. Fundador da Arte de Viver, Guruji, como é chamado carinhosamente por seus seguidores, inspira milhões de voluntários com a crença de que um corpo livre de doenças, uma mente livre de estresse e uma sociedade livre de violência são direitos naturais de todo ser humano. Tem como pilares de atuação valores humanos, serviço voluntário e espiritualidade. Em entrevista exclusiva aos Diários Associados, Ravi Shankar falou sobre a mensagem que o festival quer enviar ao mundo.

Correio Braziliense: O que o ocidente pode aprender a partir do modo de vida indiano?

Ravi Shankar: Eu acho que toda cultura tem algo para oferecer ao mundo. Por exemplo, o samba brasileiro é muito conhecido. Pessoas na Índia gostam de samba. É como a meditação da Índia. Brasileiros adoram. O princípio da não violência e paz interior é a especialidade que a Índia oferece ao mundo. O yoga é uma das principais riquezas da Índia.

CB: Como é ser responsável por levar a milhões de pessoas ao redor do mundo conhecimento para se viver melhor?

RS: Para mim, não é um fardo. É uma alegria compartilhar o que se tem. Quando se parte dessa perspectiva, você não está fazendo um esforço, apenas acontece.

CB: Apesar de seguido por milhões de devotos, o senhor acredita que a Arte de Viver é maior que seu próprio fundador?

RS: Sim, claro, porque a Arte de Viver é uma organização multifacetada. Nossas ações passam por cultivo de orgânicos, educação de crianças, programas de liberação de trauma, programas nas prisões e onde quer que haja uma calamidade, nós vamos ao local ajudar a todos. E destacamos em tudo isso nossa atuação como mediadores e negociadores onde quer que haja conflitos, como fizemos com as Farc, na Colômbia. (No ano passado, a intervenção de Sri Sri Ravi Shankar, durante um encontro em Cuba, contribuiu para um cessar fogo entre as milícias e o governo colombiano).

CB: Qual o papel do guru na vida de uma pessoa?

RS: Elevar o espírito, dar a elas coragem sempre que preciso. Reafirmar os valores humanos, porque frequentemente as pessoas perdem a fé na bondade. É aí que o guru se faz presente, ao assegurar o sucesso da bondade, a vitória da bondade.



CB: Vemos em diferentes partes do mundo situações de violência e conflito. Como cada indivíduo pode contribuir para minimizar esses aspectos negativos?

RS: Em primeiro lugar, devem encontrar sua paz interior e então ver como podem contribuir para trazer paz ao redor deles, em suas sociedades, em seus lares. Atingir as pessoas que estão estressadas e aquelas que têm alguma tendência violenta. E acima de tudo, quando indivíduos meditam também criam tal vibração positiva que indiretamente ajuda as pessoas ao redor a se tornarem mais calmas e pacíficas.

CB: A Arte de Viver já está em 155 países e continua, essencialmente com o trabalho de voluntários, levando a cada vez mais pessoas suas técnicas de meditação e respiração. A que atribuir tal alcance da organização?

RS: Eu acho que as pessoas devem saber dessas técnicas, da mesma forma que aprenderam a escovar seus dentes. Aquilo é higiene dental, e isso é higiene mental (risos). É necessário esse alcance amplo para cada um aprender.

CB: Alguns países estão vivendo crises: ética, política e econômica. Qual seria uma mensagem para a classe política de países que enfrentam essas crises, a exemplo do Brasil?

RS: Precisamos reassegurar para as pessoas que se caminhos éticos forem seguidos, ainda assim pode haver sucesso em qualquer que seja sua área de atuação, quer seja econômica, política, religiosa. É preciso ter fé e acreditar no sistema de práticas éticas, nos valores éticos. Pode-se dizer que certa insegurança no indivíduo com relação a sua carreira política o leva a práticas que não são éticas.

CB: Independente de origem, raça, cultura, o ser humano busca ser feliz. Um dos cursos que a Arte de Viver ensina mundialmente é chamado Happiness (Felicidade). Acredita ser possível alcançar a felicidade, mesmo diante dos altos e baixos que a vida invariavelmente traz?

RS: Sim (com um grande sorriso)! Temos demonstrado isso em todo o mundo, na Arte de Viver.

CB: O Festival da Cultura Mundial, conseguirá reunir mais de três milhões de pessoas em Delhi, nos próximos dias? Que mensagem esse evento quer passar ao mundo?

RS: Já fizemos isso antes, dez anos atrás quando tivemos nosso jubileu de prata, em Bangalore, no sul da Índia. Tivemos 2,5 milhões de pessoas reunidas. Cinco anos atrás, em Berlim, Alemanha, no estádio olímpico, grupos do mundo todo foram celebrar nosso 30 aniversário e meditar. O Festival da Cultura Mundial, que teremos em alguns dias, tem o propósito de celebrar a diversidade, honrar a diversidade. As guerras ocorridas no mundo buscavam torná-lo o lugar de uma única cultura ou uma única religião. Então, o festival irá enviar uma mensagem aos líderes mundiais, à comunidade global: ;olhem, nós não estamos apenas tolerando uns aos outros, mas celebrando a diversidade;. Apenas toleramos aquilo de que não gostamos. Aquilo que nos parece desagradável, nós toleramos. Para mim, tolerância tem uma conotação muito negativa. O Festival da Cultura Mundial não é sobre tolerância de forma alguma. É sobre honrar, celebrar e se regozijar diante das diferenças culturais. E para aqueles que não puderem participar aqui na Índia, teremos transmissão online ao vivo. Podem se conectar, meditar junto e fazer parte da celebração (webcast.artofliving.org).

CB: Quando os brasileiros podem esperar seu regresso ao país? Já se foram quase quatro anos desde sua última vinda ao Brasil, em 2012.

RS: Eu irei, eu irei; por enquanto estou indo por meio da mídia (risos), mas eu irei novamente.

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