Jerusalém - O vice-presidente americano, Joe Biden, chegou nesta terça-feira a Israel tendo como pano de fundo as relações delicadas entre o governo local e a Casa Branca e uma nova onda de ataques com armas brancas de palestinos contra judeus.
Poucas horas após a chegada de Biden, que veio dos Emirados Árabes Unidos acompanhado de sua esposa Jill, uma pessoa foi morta e nove feridas a facadas em ataques cometidos por um único homem em Tel Aviv, nas proximidades do local onde o vice-presidente americano é recebido pelo presidente Shimon Peres, indicaram a polícia e os serviços de emergência israelenses.
O autor desses ataques, cuja identidade ainda não foi revelada, foi abatido a tiros pelas forças israelenses. Várias das pessoas esfaqueadas tiveram ferimentos graves, de acordo com as fontes.
Este novo incidente ocorre em um contexto de ataques quase diários anti-israelenses que já duram cinco meses nos Territórios palestinos, em Jerusalém e em Israel.
A chegada de Biden foi precedida por um novo episódio de tensão nas delicadas relações entre o governo israelense e a Casa Branca, com a revelação na segunda-feira de que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu negou um encontro com Barack Obama em 18 de março.
Israel afirmou nesta terça-feira que o primeiro-ministro declinou o convite por não querer interferir nas primárias eleitorais americanas.
Já a Casa Branca expressou sua surpresa pela decisão de cancelar o encontro, que aconteceria antes da viagem histórica de Obama a Cuba em 21 e 22 de março e de uma possível participação de Netanyahu na conferência do grupo de pressão pró-israelense AIPAC em Washington.
Os jornais Haaretz e Yedioth Ahronoth ligaram o incidente às discussões em curso sobre a renovação da ajuda militar americana a Israel. Obama aproveitaria as discussões com Netanyahu "para tentar convencê-lo a assinar um acordo. Netanyahu prefere, por sua vez, fazer negócios com o próximo presidente", escreveu o Yedioth.
Este novo incidente é apenas mais um nos últimos oito anos nas relações entre os dois países.
Em 2010, uma viagem de Biden coincidiu com o anúncio da construção de 1.600 residências em um bairro de colonização em Jerusalém Oriental, o setor palestina da cidade ocupada e anexada por Israel.
Washington condena a colonização como um grande obstáculo para a paz com os palestinos. Na ocasião, Biden reagiu fortemente ao anúncio.
Mas o auge das tensões foi em 2015 sobre a questão iraniana. Desde então, Israel e os Estados Unidos procuram resgatar as fortes ligações estratégicas.
A visita de Biden deve se concentrar em muitos interesses comuns: a situação na Síria, vizinha de Israel, a influência iraniana na região, as ameaças jihadistas, etc.
Mas uma outra grande questão pode abalar relação: o conflito israelense-palestino.
Pressão americana
As perspectivas de um acordo parecem completamente bloqueadas enquanto uma nova onda de violência entre israelenses e palestinos e com novos ataques nesta terça-feira.
Além do incidente em Tel Aviv, um palestino disparou nesta terça contra policiais israelenses, ferindo gravemente dois entre eles, antes de ser morto perto da Cidade Velha de Jerusalém Oriental.
Mais cedo, uma palestina tentou esfaquear guardas de fronteira israelenses na mesma localidade.
A mulher de cerca de 50 anos, oriunda de Jerusalém Oriental, parte palestina de Jerusalém anexada e ocupada por Israel, se aproximou dos guardas perto do portão de Damasco, pegou uma faca no bolso e tentou esfaqueá-los.
Os territórios palestinos e Jerusalém são cenário desde 1o. de outubro passado de uma onda de violências que deixou 183 palestinos, 28 israelenses, um americano, um eritreu e um sudanês mortos.
O vice-presidente americano vai se reunir com Netanyahu na quarta-feira de manhã em Jerusalém e com o presidente palestino Mahmud Abbas no fim da tarde em Ramallah (Cisjordânia).
Biden "não apresentará qualquer nova iniciativa" para relançar o processo de paz, segundo a Casa Branca.
Para Ahmed Majdalani, da direção palestina, "não devemos esperar nada desta visita", porque Biden veio apenas para discutir sobre a Síria.
No entanto, os israelenses temem que a administração Obama, por falta de avanços no conflito israelense-palestino, rompa com o apoio histórico a Israel em instâncias internacionais como no Conselho de Segurança da ONU.
Wall Street Journal indicou nesta terça que a Casa Branca poderia nos próximos meses apoiar uma resolução exigindo um compromisso de israelenses e palestinos.