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Talibãs no Afeganistão se negam a participar de negociações de paz

O anúncio põe fim às esperanças de uma negociação direta com os insurgentes

Cabul, Afeganistão - Os talibãs afegãos se negaram neste sábado a participar das negociações de paz, frustrando novamente as esperanças de colocar fim a 14 anos de insurgência que deixaram milhares de mortos. O governo afegão e seus três sócios internacionais (China, Estados Unidos e Paquistão), impulsionadores das negociações, esperavam retomar o diálogo, suspenso no ano passado, no início de março no Paquistão.

Em um comunicado, os talibãs rejeitam os rumores segundo os quais "delegados do Emirado Islâmico (como se autodenominam) participarão das próximas reuniões com a permissão do mulá Akhtar Mansur", o líder do movimento, sucessor do mulá Omar. "Enquanto a ocupação das forças estrangeiras não terminar, enquanto os talibãs não forem retirados das ;listas negras; internacionais e os prisioneiros não forem libertados, estas negociações são inúteis e enganosas e não darão nenhum resultado", indica o comunicado.

[SAIBAMAIS]"Os talibãs participarão algum dia das negociações, mas quando tiverem uma posição muito mais forte em comparação com a que têm agora", disse à AFP o analista e general aposentado Atiqullah Amarkhil, que não se surpreendeu com o anúncio.

Desde dezembro de 2014, quando a missão de combate da Otan no Afeganistão terminou, os talibãs conseguiram lançar importantes ofensivas contra os 350 mil soldados e policiais afegãos, agora sozinhos na luta contra a insurreição. Os 13 mil soldados estrangeiros ainda no país se dedicam apenas à formação e ao assessoramento.



No ano passado os rebeldes demonstraram inclusive ser capazes de conquistar durante vários dias uma grande cidade, Kunduz, no norte do país. Muitos de seus habitantes temeram na época um retorno do regime que dirigiu o Afeganistão entre 1996 e 2001. Junto à ofensiva militar, os talibãs seguem uma campanha de atentados. No sábado passado 25 pessoas, em sua maioria civis, morreram em dois ataques, um no leste do país e outro em Cabul.

O ano de 2015 foi o mais mortífero para os civis desde 2009, quando a ONU começou a contabilizar o número de afegãos mortos ou feridos no conflito. No total, a guerra deixou 11.002 vítimas civis, com 3.545 mortos apenas no ano passado, indica o relatório anual das Nações Unidas. Para alcançar a paz em um país que está há 35 anos afundado na violência, o presidente Ashraf Ghani aposta agora no diálogo com os insurgentes.

A primeira rodada de negociações diretas entre os talibãs e o governo afegão foi realizada em junho no Paquistão, mas a segunda reunião foi adiada após o anúncio da morte do mulá Omar. Desde então, o governo afegão obteve o apoio de China, Estados Unidos e Paquistão - o país onde historicamente os talibãs se refugiaram - para tentar retomá-las.

Em quatro reuniões organizadas durante o ano em Cabul e Islamabad, os quatro países pediram "a todos os grupos talibãs" que se sentem à mesa de negociações, em uma tentativa de que exista um único interlocutor. No entanto, o mulá Mansur, sucessor de Omar, não tem o apoio unânime de todas as facções talibãs e vários dirigentes importantes criaram grupos dissidentes.