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Do alto de uma tenda, o refugiado exibe um papel com a frase ;Eu estou buscando a liberdade na Europa, mas não encontrei nenhuma;. Em outro ponto do campo de refugiados de Calais, no norte da França, um grande letreiro, com um coração azul no topo esquerdo, sintetizava o sentimento de muitos ali presentes: ;Nós não somos terroristas; então, não destrua nossas casas;. De nada bastaram os protestos. A porção sul da ;Selva;, como é conhecido o acampamento, começou a ser desmantelada, na manhã de ontem, por duas retroescavadeiras, apoiadas por cerca de 20 funcionários. Centenas de policiais franceses lançaram gás lacrimogêneo contra os imigrantes, que reagiram com pedras. As autoridades francesas estimavam que, dos 3.700 estrangeiros residentes em Calais, entre 800 e mil seriam afetados pelo despejo. No entanto, organizações não governamentais asseguravam que somente na área da operação de derrubada viviam 3.455 pessoas, incluindo 300 crianças desacompanhadas.
Pouco depois de retornar da Selva, o ativista francês Benoit Flament ; voluntário da Auberge des migrants, ONG que presta auxílio humanitário aos refugiados ; contou ao Correio que a polícia chegou ao local por volta das 8h (4h em Brasília), pedindo aos moradores que esvaziassem suas tendas no prazo de uma hora. ;Os agentes montaram um bloqueio na estrada e utilizaram canhão d;água para impedir o acesso à área. Uma equipe de demolição destruiu os abrigos e enfrentou muitos refugiados. Quando a polícia avançou para ampliar a área, um incêndio atingiu as barracas e causou tumulto;, relatou. ;Outras tendas começaram a queimar. Alguns ativistas também arremessaram pedras. No meio do caos, refugiados tentavam recolher o máximo de pertences que podiam, o mais rápido possível;, comentou.
Segundo Benoit, ao menos 300 imigrantes foram expulsos somente ontem. ;Nós percorremos o campo para propor uma solução às autoridades. Para que fossem acomodados em contêineres no centro da cidade de Calais ou em outro local, o que não seria tão ruim para aqueles que desejarem o asilo na França;, comentou. No entanto, o pedido teria sido em vão. Por telefone, Mitch Mitchell ; voluntário do grupo de ativistas políticos London2Calais Convoy ; enfatizou à reportagem o fato de que, quando o acampamento foi erguido, as autoridades de Calais prometeram que jamais haveria despejo. ;Quando a ordem judicial foi emitida, na semana passada, a Corte determinou que a remoção não ocorresse antes de três semanas. Duas promessas foram quebradas pelas autoridades;, lamentou.
Michtell garantiu que a operação foi ;completamente pacífica; até que os policiais atearam fogo a algumas tendas. ;Houve uma concentração de curiosos que viram a fumaça, e os agentes lançaram gás lacrimogêneo. Isso deixou as pessoas bastante nervosas, e os refugiados mais jovens arremessaram pedras contra a polícia, que utilizou canhão d;água. Eu mesmo fui atingido pelo gás em duas ocasiões hoje (ontem);, afirmou. Ele denunciou constantes abusos das forças de segurança. ;Foram várias violações. Os policiais bateram nos migrantes, foram absolutamente nojentos. A maior parte dos problemas foi por culpa da polícia.; O ativista britânico relatou que as autoridades francesas construíram outro local para os migrantes. ;É horrível, se parece mais com uma prisão.;
Fronteira
Mais a sudeste, na fronteira entre Grécia e Macedônia, cerca de 300 iraquianos e sírios desesperados se lançaram contra a cerca de arame farpado e o portão que dividem os dois países, em protesto contra a decisão de vários países da União Europeia de proibir a entrada dos estrangeiros. A polícia macedônia também usou gás lacrimogêneo para repelir a multidão. A ONG Médicos do Mundo a anunciou que ;pelo menos 30 pessoas precisaram de atendimento médico, incluindo várias crianças;. Mais de 7 mil estrangeiros estão confinados no lado grego, próximo ao posto de Idomeni. ;Abram a fronteira!”, gritavam os refugiados, que arrebentaram parte da cerca com um poste de sinalização. A Macedônia e outros países dos Bálcãs montaram barreiras para conter o fluxo migratório ; essas nações estão na rota para o norte da Europa, principal destino de milhares de pessoas fugindo da guerra na Síria.
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