As principais cidades da Síria acordaram neste sábado (27/2) sem o som de bombas, depois da entrada em vigor de um cessar-fogo entre o regime e os rebeldes - informaram militantes e o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Horas depois, porém, obuses caíram na capital, Damasco.
"Um pequeno número de terroristas de Duma e Jobar (setores ao leste de Damasco) disparou vários obuses contra bairros residenciais da capital", disse à agência oficial de notícias Sana uma fonte militar, que não classificou o episódio como uma violação da trégua.
Uma fonte da segurança informou que cerca de 10 obuses caíram sobre o bairro dos Abásidas, no leste da cidade.
O esperado cessar-fogo entrou em vigor à meia-noite local deste sábado (19h, sexta-feira de Brasília), após um acordo fechado entre Rússia e Estados Unidos com o apoio do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Este acordo afeta apenas as zonas de combate entre as forças do governo, que contam com o suporte da Aviação russa, e os rebeldes sírios. Estão excluídos os grupos Estado Islâmico (EI) e Frente al-Nosra, o braço sírio da Al-Qaeda. Ambos controlam mais de 50% do território.
Neste sábado, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, e o secretário de Estado americano, John Kerry, "saudaram" o cessar-fogo em uma conversa por telefone, anunciou a Chancelaria russa.
"Os chefes da diplomacia saudaram a entrada em vigor do cessar-fogo na Síria" e também trataram das "perspectivas de retomar as negociações de paz entre os sírios, no âmbito do Grupo Internacional de Apoio à Síria", acrescentou a nota do Ministério russo.
Apesar da esperança trazida pelo acordo, a complexidade de sua aplicação a longo prazo deixa os analistas céticos.
São "um dia e uma noite excepcionais para os sírios", afirmou o enviado da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, ressaltando que o dia de hoje será "crítico".
Para apoiar o acordo e impedir um erro de bombardeio, a Aviação russa anunciou a suspensão por um dia de todas as saídas de suas aeronaves na Síria, onde vem bombardeando zonas rebeldes e extremistas desde o final de setembro.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) e vários militantes, a calma prevalecia nas províncias de Homs e de Hama (centro), na de Damasco e na região de Aleppo (norte). Regiões insurgentes não foram alvo de ataques aéreos consecutivos.
A guerra acabou?
Na cidade de Aleppo, desde julho de 2012 transformada em um campo de batalha entre governo e insurgentes, vários habitantes de bairros rebeldes disseram à AFP que, se a trégua continuar, pretendem levar os filhos ao parque.
"Espero que a trégua dure e que o governo respeite seu compromisso, mesmo que seja por um curto período", disse à AFP Abu Nadim, de 40 años, no bairro rebelde de Bustan al-Qasr, em Aleppo.
Em Damasco, o estudante de Medicina Amar al-Rai, de 22 anos, comemora.
"Eu e meus amigos estamos felizes. É a primeira vez que acordo sem o barulho da artilharia, conta.
Segundo ele, um amigo que está exilado na Alemanha telefonou para saber: "então, a guerra acabou? Posso voltar?".
Próximo a Damasco, o comitê local de Daraya afirmou que tudo estava tranquilo. Os militantes postaram hashtags #SomosTodosDaraya", em solidariedade a esta localidade, excluída do cessar-fogo pelo governo, alegando que abriga a Frente al-Nosra. A oposição nega.
Combates em território extremista
Se a trégua durar e a ajuda humanitária chegar às zonas sitiadas, De Mistura convocará uma nova rodada de negociações de paz intersírias para 7 de março, em Genebra. As discussões fracassaram.
A trégua tem por objetivo favorecer uma solução política à guerra, que causou mais de 270.000 mortos e deslocou mais da metade da população.
Nas regiões com presença do EI e da Frente Al-Nosra, houve confrontos intermitentes, segundo o OSDH.
Neste sábado, as forças curdas e os aviões da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos bombardearam posições do EI, conseguindo expulsá-los de Tall Abyad (norte), após duros combates, nos quais cerca de 70 radicais e 20 curdos morreram, segundo o OSDH.
Em Janaser, no leste de Aleppo, houve confrontos entre o Exército e o EI. Além disso, seis pessoas morreram em dois atentados e pela explosão de uma bomba à entrada de Salamiya, na província de Hama.