Está prevista para amanhã (7) a saída do atual presidente do Haiti, Michel Martelly. O que deveria ser uma transição política comum, com a entrada de um presidente eleito, se tornou um embróglio de desfecho desconhecido. Após uma série de protestos da população, o segundo turno das eleições presidenciais foi adiado mais de uma vez. Os haitianos suspeitam de fraude no processo eleitoral para beneficiar o candidato do governo, Jovenel Moise.
Martelly, no entanto, promete deixar o cargo mesmo sem um novo nome eleito para ocupá-lo. Um presidente provisório deverá assumir seu lugar, até que o processo eleitoral continue. Mas uma pesquisa divulgada em fevereiro pelo Instituto Igarapé, com sede no Rio de Janeiro, alimentou as suspeitas levantadas pela oposição e população. O estudo revelou que houve uma baixa presença de eleitores nas urnas no primeiro turno presidencial, destoando dos números oficiais.
Do total de entrevistados, 1.460 haitianos afirmaram ter registro para votar, sendo que 103 deles não tinha certeza se o registro eleitoral ainda estava válido, seja por terem se mudado, por nunca terem votado desde que tiraram o documento. Perguntados se tinham votado no primeiro turno das eleições presidenciais, em 25 de outubro, apenas 285 (16,2%) pessoas indicaram terem votado.
É um número consideravelmente menor do que o esperado, uma vez que o número oficial de participação naquele momento da eleição foi 26,6% dos eleitores. Além disso, a popularidade do candidato de oposição, Jude Celestín, retratada na pesquisa mostrou discrepância com o resultado oficial do primeiro turno das eleições.
Na pesquisa, 91% dos entrevistados declararam preferência a Celestín. No primeiro turno das eleições presidenciais, o candidato de Martelly, Jovenel Moise, obteve 32,76% dos votos, contra 25,29% registrados por Célestin.
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Os números servem de combustível para a suspeita da população em relação as fraudes na eleição. Diante do resultado do primeiro turno, Celestín se recusou a participar do segundo turno. Grupos de manifestantes protestaram, bloqueando ruas, queimando pneus e veículos. A onda de violência atingiu o país e continuou após o adiamento do segundo turno.
;Os partidários da oposição e agora também os da situação estão indo para a rua fazer os seus protestos. E a possibilidade de um grupo se cruzar com o outro existe. E se isso acontecer logicamente haverá choque, porque as manifestações não são pacíficas;, disse o General Ajax Porto Pinheiro, comandante da Missão de Estabilização da ONU no Haiti (Minustah), em entrevista concedida à Agência Brasil no final de janeiro.
A pesquisa mostrou também que muitos haitianos estão pessimistas quanto aos rumos do país. Apenas 3% dos entrevistados afirmaram que participariam do segundo turno dia 25 de janeiro, caso ocorresse. Além disso, mais de 68% dos haitianos consideram que a suspeita de fraude eleitoral foi a principal razão para a população não participar do segundo turno.
Na opinião de Robert Muggah, diretor de pesquisa do Instituto Igarapé e um dos autores do estudo, o povo haitiano quer participar mais das decisões políticas do país, mas lhe falta confiança de que suas decisões serão respeitadas.
;Em sua maioria, os haitianos se empenham para ter um processo democrático e participativo. Mais de 80% dos entrevistados tinham tirado título de eleitor, mas, depois dos seguidos golpes de Estado desde a década de 1990, anseiam um processo legítimo, sem intimidação. A criação de um processo de transição legítima poderia ajudar a renovar a confiança no processo democrático;, disse Mugah.
Esse processo começa, conclui a pesquisa, com a confirmação da saída de Martelly da presidência. ;[;] é absolutamente crucial que o presidente Martelly deixe o cargo no dia 7 de fevereiro, como o planejado. Isto vai ajudar a renovar a esperança no processo democrático e demonstrar comprometimento com uma transição de poder pacífica;.