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ONU inicia oficialmente negociações de paz sobre a Síria

No encontro, a oposição reiterou suas necessidades humanitárias.

As negociações de paz sobre a Síria "começaram oficialmente" - anunciou nesta segunda-feira à noite o enviado especial da ONU Staffan de Mistura, ao fim de uma reunião de duas horas em Genebra com a delegação da oposição síria.

No encontro, a oposição reiterou suas necessidades humanitárias.

"As negociações de Genebra começaram oficialmente", repetiu várias vezes De Mistura, que quer estabelecer um diálogo indireto entre o governo de Damasco e a oposição para tentar acabar com a guerra que assola a Síria há cinco anos.

Ele anunciou uma reunião "com o governo amanhã (terça-feira) e, à tarde, convidaremos o ACN (Alto Comitê de Negociações) para aprofundar os temas apresentados".

O diplomata sueco de origem italiana prevê que esses diálogos serão "complicados e difíceis", mas que o povo sírio merece "ver algo concreto, além destas longas e dolorosas negociações".

De Mistura falou à imprensa após concluir a reunião preliminar com representantes do opositor ACN. A delegação chegou no sábado a Genebra, após dias de deliberações sobre se participariam dessas negociações indiretas com o governo de Bashar al-Assad.

"O objetivo mais imediato é nos assegurarmos de que as conversas continuam e que todo mundo participe delas", destacou De Mistura.

Ele disse que ainda não tem como prever quanto tempo vai durar esta primeira rodada, embora espere que se "consiga algo" até 11 de fevereiro.

A guerra na Síria devastou o país por quase cinco anos, deixando mais de 260.000 mortos e forçando milhões de pessoas a fugir.

Ajuda humanitária

Há vários dias, o ACN vem repetindo suas condições antes de começar a negociar oficialmente: o fim dos bombardeios, o fim do cerco às cidades e a libertação dos presos. Esta última talvez seja a concessão mais fácil de obter até o momento, segundo uma fonte diplomática.

Hoje, o governo sírio autorizou o acesso de ajuda humanitária à cidade de Madaya, onde 46 pessoas morreram de fome desde o início de dezembro passado. Essa situação se repete em outras cidades sírias, disse à AFP o porta-voz da Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha).

"O governo aprovou em princípio o envio de comboios para Madaya e, simultaneamente, para Kafraya e Fua (duas cidades xiitas sitiadas pelos rebeldes), acrescentou o porta-voz da Ocha.

A delegação do ACN é liderada pelo chefe rebelde islamita Mohamed Alush, que chegou à tarde em Genebra. Ele comanda o grupo de inspiração salafista Jaich al-Islã (Exército de Deus), considerado "terrorista" por Damasco e por seus aliados russos.

O ACN aceitou a reunião, após obter "garantias" da comunidade internacional e uma "resposta positiva do enviado especial da ONU", segundo um de seus porta-voz, Salem al-Meslet.

Uma fonte diplomática relatou à AFP que o ACN desconfia tanto da ONU quanto do governo e quer "coisas tangíveis e visíveis em seguida".

De Mistura deve se reunir nesta terça com representantes do governo sírio. De Omã, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, celebrou o início das negociações.