A advogada Marielle Tyranowicz treina, tropeçando em seus saltos altos, para socorrer um amigo ferido e conter sua hemorragia, um exemplo de que, ainda traumatizados pelos atentados de 13 de novembro, os parisienses se preparam para reagir no caso de novos ataques.
"Isso vai acontecer cada vez mais. Sejam atentados em massa ou pessoas que vão atacar individualmente, atirando. Não vejo o futuro com otimismo", disse à AFP para explicar sua decisão de fazer um curso de primeiros socorros. Em novembro, os acontecimentos paralisaram muitos parisienses, que não souberam como reagir a uma situação de emergência. Agora, muitos deles decidiram aprender a agir.
Alguns fazem suas primeiras massagens cardíacas e torniquetes para deter hemorragias. Paralelamente, 400 engenheiros, técnicos em informática e designers gráficos participam de um concurso de ideias com o objetivo de encontrar soluções inovadoras para enfrentar a crise.
Entre as principais ideias, está uma mensagem de voz em que o barulho de fundo, o nível de estresse na voz e outros indicadores permitam aos serviços de socorro classificar as ligações por ordem de prioridade; um sistema de mensagens de texto automáticas para não bloquear as centrais telefônicas e uma forma de evitar a propagação de rumores falsos durante um atentado.
Minutos vitais
O concurso foi idealizado pelo empresário e web designer Jean-François Pillou. "Há start ups que revolucionam a indústria. Por que não (revolucionar) a luta contra o terrorismo?", disse nas redes sociais. É uma novidade mundial, trata-se da primeira vez que os poderes públicos, especialmente a polícia, aceitam pedir ideias ao público. Há quem considere que isso equivalha a aceitar que (a polícia) não tem todas as soluções", declarou Pillou à AFP.
No quartel de Paris em que Marielle Tyranowicz faz seu curso de primeiros socorros, os bombeiros esperam formar, nesse primeiro momento, oito mil pessoas que terão aprendido táticas simples, mas que podem salvar vidas. O curso tem início com um vídeo de uma situação agora conhecida: homens que atiram contra o terraço de um café. As vítimas estão no chão, em meio a poças do próprio sangue, entre mesas e cadeiras.
Uma mulher anda entre as vítimas, avaliando o que pode ser feito. Uma é tirada debaixo da mesa, a outra precisa de um torniquete, uma terceira está morta, nada pode ser feito por ela. A ideia é ensaiar a ajuda nos minutos vitais que precedem a chegada dos serviços de socorro.
"Se nada for feito, a pessoa vai morrer. Se fizerem alguma coisa, ainda que mal feito, surge uma chance de sobrevivência", afirma o general Philippe Boutinaud, que teve a iniciativa de organizar estes cursos. Os alunos aprendem rapidamente a cuidar dos ferimentos, mas "em uma situação em que as vítimas são numerosas, como em um atentado", quando outros feridos também necessitam de ajuda, é preferível fazer um torniquete para deter a hemorragia.
"Usem o que tiverem em mãos: um lenço, um pedaço de pano", explica o instrutor Guillaume Meriotte. "Isto também vale para vocês mesmos, caso sejam atingidos por uma bala ou levem uma facada". A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, considera que essas iniciativas demonstram "uma grande vontade dos parisienses de se comprometer com seus concidadãos"."Nossa sociedade continua aqui, de pé, e não se deixará intimidar pelos terroristas", afirmou.