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Síria começa negociações para retirar 400 civis da cidade de Madaya

Em Madaya, perto de Damasco, os alimentos, medicamentos e cobertores começaram a ser distribuídos aos habitantes após a chegada do primeiro carregamento de ajuda desde outubro

Beirute, Líbano - As negociações estavam em andamento nesta terça-feira (12/1) para retirar 400 civis, alguns dos quais gravemente desnutridos, da cidade síria de Madaya, sitiada pelo exército e onde a situação humanitária é considerada catastrófica.

[SAIBAMAIS]Além disso, as forças do regime sírio entraram nesta terça-feira na localidade estratégica de Salma, principal reduto rebelde na região montanhosa de Latakia, noroeste do país, perto da fronteira com Turquia, informou uma ONG.

Em Madaya, perto de Damasco, os alimentos, medicamentos e cobertores começaram a ser distribuídos aos habitantes após a chegada do primeiro carregamento de ajuda desde outubro. A grave situação humanitária em Madaya, sitiada há meses pelas forças governamentais, não tem precedentes no conflito na Síria, afirmou nesta terça-feira uma fonte das Nações Unidas que visitou a cidade.

"O que vimos é horrível, não há vida. Está tudo muito tranquilo. Mas há informações concretas de que as pessoas morreram de fome. O que vimos em Madaya não tem precedentes com relação a outras partes da Síria", declarou o representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), Sajjad Malik.

Malik explicou ter visto crianças obrigadas a comer capim para sobreviver. A população de Madaya está faminta após seis meses de sítio, segundo organizações humanitárias. Várias centenas de pessoas "estão em perigo de morte", porque estão desnutridas ou com "outros problemas médicos", de acordo com o chefe de operações humanitárias da ONU, Stephen O;Brien.

O regime concordou, na semana passada, em autorizar a entrega de alimentos em Madaya, o que também será permitido em outros povoados sitiados e controlados por rebeldes. "As 400 pessoas devem ser evacuadas imediatamente", e a ONU espera fazê-lo "o mais rapidamente possível", afirmou O;Brien ao final de uma reunião do Conselho de Segurança na segunda-feira.

"O Comitê Internacional da Cruz Vermelha, o Crescente Vermelho e as Nações Unidas trabalham sobre isso, mas é um processo muito complicado que requer permissões para realizá-lo", disse à AFP Pawel Krzysiek, porta-voz do CICV em Damasco.

"Estamos negociando com todas as partes", acrescentou. Para retirar os habitantes em segurança por via rodoviária ou aérea são necessárias garantias do governo sírio, mas também de "outras partes", disse ele.

Os primeiros caminhões com alimentos e medicamentos chegaram na segunda-feira (11/1) à cidade. Ao menos 400.000 pessoas vivem em zonas sitiadas por tropas do regime ou por grupos armados rebeldes e não podem receber abastecimento, segundo a ONU.

Funcionários da ONU e do CICV que foram no local segunda-feira incumbido tiverem sido chocados com a pobreza de 42.000 habitantes da cidade.

Exército avança

Além de Madaya, 21 outros caminhões entraram em Fua e Kafraya, duas localidades xiitas cercadas pelos rebeldes e localizadas a mais de 300 km de Damas, na província de Idleb (noroeste).

Na frente militar, "o exército sírio, com o apoio de milícias pró-regime e de combatentes do Hezbollah libanês e graças aos bombardeios intensivos russos, entrou nesta terça-feira no leste de Salma", onde são travados combates violentos com insurgentes islamitas, como e Frente Al-Nosra, afirmou Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

A região costeira de Latakia é um reduto do regime e o local de nascimento da família do presidente, Bashar al-Assad. A ofensiva foi precedida por 120 ataques aéreos russos na região em apenas 48 horas. Nos últimos dias, as forças do governo assumiram o controle de várias localidades da região.

Salma, situada a 800 metros de altitude, está sob controle dos rebeldes desde julho de 2012. "Se tomarem a cidade, será mais fácil avançar na montanha de Al-Akrad", que domina a região, completou Abdel Rahman.

No plano diplomático, o presidente russo, Vladimir Putin, considerou que Assad cometeu "muitos erros durante o conflito" sírio e que é cedo para falar de um eventual asilo na Rússia. Vladimir Putin respondeu desta forma a uma pergunta sobre um eventual exílio na Rússia se Assad perder as eleições em seu país.

O mapa do caminho internacional para solucionar o conflito da Síria adotado pelo Conselho de Segurança da ONU prevê negociações entre as partes sírias em janeiro, um governo de transição seis meses depois e eleições em um prazo de 18 meses.