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Retirada de jihadistas de Damasco é suspensa após morte de chefe islamita

Pessoas deveriam ser transferidas a Raqa, capital de fato do EI (no norte da Síria) ou a Marea, na província de Aleppo, controlada em sua maior parte pela Al-Nosra e por outros grupos islamitas

Beirute, Líbano - Um acordo de evacuação de milhares de civis e jihadistas de três bairros do sul de Damasco foi suspenso neste sábado (26/12), um dia após a morte de um líder rebelde em um bombardeio do regime sírio. Zahran Allush, de 44 anos, era líder do Jaish al-Islam (Exército do Islã), o principal grupo armado da região da capital. Sua morte, segundo os especialistas, representa um duro golpe para o levante contra o regime de Bashar al-Assad e uma ameaça para as negociações de paz que devem começar em janeiro em Genebra.

"A evacuação de combatentes do Daesh (acrônimo em árabe do grupo Estado Islâmico, EI) e de outros grupos do bairro de Hajar al Aswad foi suspensa e os ônibus que deveriam transportá-los partiram devido à morte de Zahran Allush", afirmou uma fonte próxima às negociações.

O acordo previa a evacuação de 4.000 pessoas, tanto civis quanto milicianos do EI e da Frente al-Nosra, do campo de refugiados palestinos de Yarmuk e dos bairros de Qadam e Hajar al Aswad. Elas deveriam ser transferidas a Raqa, capital de fato do EI (no norte da Síria) ou a Marea, na província de Aleppo, controlada em sua maior parte pela Al-Nosra e por outros grupos islamitas.

[SAIBAMAIS]A fonte indicou que "1.200 pessoas deveriam partir neste sábado, mas a morte de Zahran Allush nos deixa novamente no ponto de partida" das discussões. Outra fonte próxima ao tema afirmou que "o acordo segue em vigor", mas que "sua aplicação foi atrasada por razões logísticas".

Trata-se do primeiro acordo deste tipo que envolve o EI, após o fracasso de quatro tentativas anteriores de negociação para evacuar a população, segundo uma fonte do governo. A organização Jaish al-Islam, vinculada à Arábia Saudita, controla a maior parte da periferia leste da capital, bombardeada regularmente pelas forças governamentais e pela aviação russa.

Em uma declaração transmitida pela TV, um porta-voz do exército mostrou vídeos do ataque em que Allush morreu. Allush "morreu em um ataque contra a localidade de Al Marj, na Ghuta Oriental, junto a comandantes do Jaish al-Islam", confirmou à AFP um dos responsáveis do movimento. A organização armada designou como novo líder Abu Himam al Buwaydani, de 40 anos, cuja família tem vínculos estreitos com a Irmandade Muçulmana, segundo o OSDH.

Atentado e combates no norteNo norte da Síria, ao menos 71 soldados e milicianos jihadistas morreram na sexta-feira em um atentado suicida e em combates posteriores, indicou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). O ataque suicida foi lançado com um carro-bomba por membros da Frente al-Nosra, o braço sírio da Al-Qaeda, contra forças do regime na cidade de Bashkoy, na província de Aleppo, disse o OSDH, uma ONG com sede em Londres.

Um total de 33 membros das forças de Assad e 38 insurgentes morreram no atentado e nos combates, indica o relatório. Após os confrontos, os grupos islamitas tomaram o controle de vários distritos de Bashkoy. A guerra civil síria, que explodiu em 2011, já deixou mais de 250 mil mortos.

Golpe para os diálogos de pazGeralmente vestido de farda e usando uma barba negra, Zahran Allush, de 44 anos, era filho de um pregador salafista que vive na Arábia Saudita. Foi detido pelo regime em 2009 e libertado em junho de 2011 no âmbito de uma anistia geral, três meses após o início do conflito sírio.



O movimento Jaish al-Islam, de inspiração salafista, é profundamente antialauita (o braço do xiismo professado pelo presidente Assad). Embora a princípio tenha se mostrado partidário da implantação de um Estado islâmico, recentemente adotou uma retórica mais moderada.

O grupo executou em julho vinte jihadistas, imitando a cenografia macabra de seus adversários; em novembro utilizou civis alauitas e soldados do regime como escudos humanos para evitar os bombardeios. A morte de seu líder ocorre pouco depois que o exército sírio, que desde 30 de setembro conta com o apoio dos bombardeios russos, anunciou o início de uma grande operação para reconquistar o leste da capital.

Jaish al-Islam forma parte das organizações que participarão em janeiro dos diálogos organizados pela ONU em Genebra para conquistar um acordo que coloque fim ao conflito.

Para o especialista Aron Lund, a morte de Allush "pode afetar o processo de paz, desestabilizando o Jaish al-Islam e debilitando-o". "As negociações precisavam de um envolvimento por parte de extremistas como Zahran Allush para que fossem críveis", acrescentou, informando que "no seio da rebelião síria, Allush era um dos poucos que havia conseguido centralizar (o poder)".