Riade, Arábia Saudita - Ao menos nove sauditas foram eleitas nas primeiras eleições abertas às mulheres, como eleitoras e candidatas, na ultraconservadora Arábia Saudita, segundo os resultados oficiais comunicados neste domingo.
"Mesmo se não houvesse nenhuma eleita, estaríamos orgulhosas. Francamente, não esperávamos qualquer vitória", comemorou Sahar Hassan Nasief, militante feminista da região de Jeddah (oeste).
As candidatas foram eleitas no sábado em eleições municipais históricas no último país do mundo a negar o direito de voto e candidatura a suas cidadãs.
[SAIBAMAIS]
A primeira mulher cuja vitória foi anunciada é Salma Bent Hizab Al Oteibi, que ganhou uma cadeira no Conselho Municipal de Madrakah, localidade da região de Meca, primeiro local santo do Islã. Ela disputava a vaga com sete homens e outras duas mulheres.
Já Honuf bent Mafrah al-Hazimi foi eleita ao conselho municipal da província de Jawf (norte), e duas outras na região de Ihsaa (sudeste), enquanto que a capital saudita Riad registrou a vitória de três mulheres, segundo a agência oficial SPA.
Além disso, duas candidatas foram eleitas na província de Tabbuk (noroeste).
A Arábia Saudita, regida por uma versão rigorosa do Islã, é um dos países mais restritivos do mundo para as mulheres, que não têm direito de dirigir carros e precisam da aprovação de um homem para trabalhar ou viajar.
Para votar no sábado, muitas mulheres não tiveram outra opção que ser levadas de carro por um motorista ou membro masculino de sua família. A segregação também ocorreu nos colégios eleitorais.
Mais de 900 mulheres concorreram junto a 6.440 homens, tendo que superar vários obstáculos como, por exemplo, não poder dialogar com eleitores do sexo masculino.
Boa parte da campanha se deu nas redes sociais. No dia da votação, algumas mulheres postaram fotos de seus rostos descobertos, enquanto nas ruas portavam, em sua maioria, o véu integral.
Elas vão surpreender
Segundo dados oficiais, cerca de 1,5 milhão de pessoas com 18 anos ou mais estavam registradas para votar, incluindo cerca de 119.000 mulheres, enquanto a população total do reino é de 21 milhões de pessoas.
Todos os candidatos disputavam 284 cadeiras nas câmaras municipais, assembleias com poderes limitados que são as únicas no reino a incluir representantes eleitos.
Não há números de participação a nível nacional até a tarde deste domingo, mas, na região montanhosa de Baha (sudoeste), 82,5% das mulheres cadastradas participaram na votação, de acordo com a comissão eleitoral local, citada pela agência APS.
As candidatas declararam-se orgulhosas por ter participado desta eleição, apesar de terem quase nenhuma chance de ganhar.
Eleitoras mulheres, emocionadas e, por vezes, em lágrimas, ressaltaram o quanto estavam felizes por finalmente fazerem uma coisa que até então só viam na televisão.
Nassima al-Sadah, feminista da cidade de Qatif (leste), comemorou em um tuíte "uma vitória para todos". "Eu digo a você há meses: as mulheres vão surpreendê-los".
O rei Abdullah, antecessor do atual soberano Salmane, iniciou uma abertura em 2011, dando às mulheres sauditas o direito de voto e de elegibilidade.
Antes das eleições de sábado, a organização Human Rights Watch elogiou a votação, ressaltando, no entanto, que "a Arábia Saudita continua a discriminar as mulheres através de uma miríade de leis, políticas e práticas."