A proposta do pré-candidato republicano à presidência dos EUA Donald Trump - fechar o país aos muçulmanos - deflagrou uma reação unânime de repúdio nesta terça-feira (8/12): de funcionários de alto perfil na ONU a chefes de Estado estrangeiros, passando pela opinião pública americana.
[SAIBAMAIS]Favorito entre os pré-candidatos do Partido Republicano, Trump causou escândalo ao sugerir que os Estados Unidos deveriam impedir o ingresso de qualquer muçulmano. Em declarações igualmente polêmicas ao longo da campanha, Trump já chamou os mexicanos de "estupradores" e defendeu a expulsão de 11 milhões de imigrantes.
Nesta quarta-feira (9/12), a Casa Branca considerou que, com essa declaração, Donald Trump se "desqualificou" para ser presidente. "O que Donald Trump disse o desqualifica para ser presidente", declarou o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, em um tom incomumente firme. "É moralmente repreensível, e pode ter consequências para nossa segurança nacional", frisou. "A verdadeira questão para o Partido Republicano é saber se se deixará levar para o lixo da história junto com Donald Trump", acrescentou.
Earnest questionou se os demais pré-candidatos nas fileiras republicanas "têm a coragem" de expressar "suas convicções". "Estamos falando dos valores fundamentais desse país", insistiu o porta-voz, denunciando "o cinismo" de Trump.
Para o primeiro-ministro britânico, David Cameron, as declarações de Trump sobre os muçulmanos são "simplesmente equivocadas". Seu porta-voz deixou claro que Cameron está "em total desacordo com elas" - frase esta que se repetiu em vários idiomas e em diferentes lugares.
O geralmente discreto primeiro-ministro francês, Manuel Valls, foi ainda mais direto e, em mensagem no Twitter, afirmou que Trump, "assim como outros, alimenta o ódio e as generalizações". "Nosso único inimigo é o Islã radical", frisou.
Em Genebra, a porta-voz do Alto Comissário da ONU para os Refugiados (Acnur), Melissa Fleming, manifestou nesta terça a "preocupação" desse agência da ONU com as ideias defendidas pelo republicano. "Estamos preocupados com a retórica utilizada na campanha eleitoral que coloca em perigo um importante programa de reinstalação de refugiados sírios", disse Fleming.
O diretor do Centro Islâmico de Nova Jersey, Ahmed Shadeed, advertiu que as ideias de Trump "estão dando direito que as pessoas nos façam mal". No Cairo, o Dar al Iftaa, a máxima autoridade religiosa do Egito, condenou os "comentários extremistas e racistas", acrescentando que servirão apenas para aumentar a tensão entre comunidades.
"A histeria antimuçulmana se converteu numa das principais características de sua campanha", afirmou, por sua parte, Robert McCaw, um dos dirigentes do Conselho de Relações Americanas-Islâmica (CAIR), a maior organização civil muçulmana do país, que também condenou a posição de Trump.
Reação americana
Nos Estados Unidos, Trump foi tratado nas redes sociais como "demagogo fascista" e houve até quem tenha proposto que fosse colocado em um foguete e enviado para o espaço. Políticos também reagiram. Hoje, o presidente da Câmara de Representantes, o conservador Paul Ryan, disse que a visão de Trump "não é conservadorismo", lembrando que "há muitos muçulmanos em nossas Forças Armadas, inclusive muitos muçulmanos que trabalham no Congresso".
A pré-candidata democrata Hillary Clinton, favorita nas pesquisas, fez um apelo aos muçulmanos americanos: "Isto que vocês escutaram de parte de Trump e de outros republicanos é (...) contra nossos valores como nação. Este também é seu país". "Donald Trump acaba com todas as dúvidas: faz campanha para a presidência enquanto demagogo fascista", escreveu o pré-candidato democrata Marton O;Malley.
No Twitter, o ex-governador da Flórida Jeb Bush postou que "Donald Trump está desequilibrado". "Todo candidato à presidência deve fazer o certo e condenar o comunicado de @realDonaldTrump", escreveu o senador Lindsey Graham no Twitter.
Já o multimilionário Jeff Bezos publicou uma mensagem, afirmando que se encarregará de "reservar (para Trump) um assento no próximo foguete Blue Origin. Mandem-no para o espaço". Para o representante republicano Mike Turner, a visão de Trump é "deplorável".
"Não é apenas deplorável, como também mostra que Trump não está qualificado para ser presidente dos Estados Unidos. Mostra que não entende nossas leis. Mostra, sem dúvida, que não entende nossa História, nem a História da humanidade", alfinetou Turner.