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Críticas da direita após ataques abalam unidade buscada por Hollande

Sobre a extensão do estado de emergência de 12 dias para três meses, solicitada por Hollande, Le Pen disse: "Estamos de acordo sobre o princípio"

Francis, Paris -- O líder da direita, Nicolas Sarkozy, abalou neste domingo (15/11) a unidade nacional buscada pelo presidente francês, François Hollande, após os piores atentados cometidos na França, ao pedir uma mudança "drástica" na política de segurança do país. Hollande recebeu mais tarde a líder da extrema direita Marine Le Pen, da Frente Nacional, que pediu "decisões firmes".

[SAIBAMAIS]O ex-presidente derrotado em 2012, hoje presidente do partido Os Republicanos, foi o primeiro dirigente recebido neste domingo por Hollande, no primeiro dos três dias de luto nacional em homenagem às vítimas dos atentados.

O presidente socialista recebeu durante o dia todos os líderes dos partidos representados no Parlamento antes de se expressar aos legisladores reunidos no Congresso (as duas câmaras), na segunda-feira, em Versalhes. Um procedimento muito pouco frequente na vida política francesa, justificada segundo ele, pela necessidade de unidade e reunião após os ataques.

Sobre a extensão do estado de emergência de 12 dias para três meses, solicitada por Hollande, Le Pen disse: "Estamos de acordo sobre o princípio". Para destacar que esta prorrogação "sirva para desarmar (as pessoas de) os subúrbios, revistar imóveis, buscar as armas que já pululavam durante o mandato de Nicolas Sarkozy - que não manteve sua promessa (a respeito) da época - e que continuam pululando". Le Pen pediu "decisões firmes" porque a "unidade nacional" requer "ações" para "a segurança dos franceses".

Nesta sexta-feira, Hollande tinha declarado: "o que defendemos é a nossa pátria, mas é muito mais que isso. São os valores da humanidade. A França saberá assumir suas responsabilidades e por isso os chamo a esta unidade indispensável", ao denunciar um "ato de guerra" cometido pelo "exército terrorista" do Daesh, acrônimo em árabe para o grupo Estado Islâmico (EI).

Em janeiro, os ataques contra o semanário satírico Charlie Hebdo e um supermercado kosher (17 mortos) geraram uma unidade política - breve, mas quase total - e manifestações de solidariedade em todo o país.

No entanto, ao sair da entrevista com o presidente socialista, o tom de Sarkozy foi muito crítico. "Disse ao presidente Hollande que me parecia que devemos construir respostas adaptadas, o que significa uma inflexão da nossa política externa, das decisões no plano europeu e drásticas modificações da nossa política de segurança", declarou.

Sarkozy também pediu "uma nova política migratória" europeia, apesar de que - acrescentou - "não há vínculo" com os atentados.

Também pediu que todas as pessoas apontadas como radicalizadas sejam colocadas em "prisão domiciliar" com "um bracelete eletrônico".

Segundo o cientista político Jérôme Sainte-Marie, François Hollande não pode contar com o apoio quase incondicional expresso após a primeira onda de atentados de janeiro passado.

Em dez meses, o contexto político mudou. Após meses de bombardeios no Iraque e na Síria, a coalizão internacional fracassou em fazer o EI recuar, e a oposição francesa pede uma ação de maior amplitude, coordenada com a Rússia. Alguns sugerem, inclusive, fazê-lo com Bashar al Assad.

A um ano e meio das eleições presidenciais de 2017, os partidos estão em campanha para as eleições regionais de dezembro, que se anuncia um desastre para o governo socialista.

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Em janeiro, a popularidade do chefe de Estado, que estava no chão, teve uma recuperação espetacular, antes de voltar a cair ao nível atual, em que menos de um em três franceses tem uma opinião favorável sobre ele.

Desta vez, "após um imediato reflexo de solidariedade da opinião", o presidente corre o risco de padecer "um efeito adverso durante muito doloroso", avalia Sainte-Marie.

"A repetição dos fatos pode levar a uma reflexão política das decisões do governo e gerar críticas. De um lado, a respeito da eficácia da prevenção, a questão da segurança, mas também na frente diplomática, saber se as decisões da França na questão são as corretas", prossegue.

Crítico sobre a estratégia de Hollande na Síria, Sarkozy o teria chamado a "trabalhar" com a Rússia, considerada um fator inevitável em toda a solução para a crise, ao preço de abrir mão de exigir a saída do poder de Bashar al Assad como pré-condição absoluta.

O ex-primeiro-ministro Alain Juppé, segundo todas as pesquisas favorito dos franceses entre os candidatos em potencial da direita à Presidência em 2017 e que enfrentará Sarkozy em uma primária no ano que vem, também considerou "indispensável esclarecer os objetivos da coalizão internacional (na Síria) que hoje em dia não é eficaz".

"Eu estava alinhado com o governo: nem o Daesh, nem Bashar. Hoje se estabeleceram hierarquias, há prioridades, é necessário esmagar o Daesh", disse Juppé.