O Líbano guarda um dia de luto nacional nesta sexta-feira depois de um duplo atentado que deixou 44 mortos em um reduto do Hezbollah xiita no sul de Beirute, reivindicado pelo grupo jihadista sunita Estado Islâmico (EI).
As duas organizações se enfrentam na vizinha Síria, assolada por um conflito cada vez mais complexo, que matou mais de 250.000 pessoas desde 2011.
O ataque de quinta-feira na periferia sul da capital libanesa é o mais sangrento contra um reduto do movimento xiita desde que teve início, em 2013, seu apoio militar na Síria ao regime de Bashar al Assad, e foi um dos mais mortais no Líbano desde o fim da guerra civil no país.
Nesta sexta-feira, as famílias preparavam os enterros e o país guardava luto, com as escolas públicas e privadas fechadas. O atentado foi condenado pela ONU, pelos Estados Unidos e pela França.
Segundo um último balanço provisório da Cruz Vermelha libanesa, o atentado deixou, ainda, 239 feridos, muitos em estado grave.
Nas últimas horas da tarde de quinta, dois homens a pé detoraram seus cintos explosivos em frente a um centro comercial do bairro Burj al Barajne. O exército informou ter encontrado morto um terceiro terrorista, que não conseguiu detonar o artefato que levava consigo.
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Um fotógrafo da AFP viu corpos ensaguentados em meio a lojas e carros destruídos. Vários socorristas e civis levaram os feridos.
O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) reivindicou o atentado em um comunicado difundido pela internet, que mencionou dois ataques, sendo um suicida.
"Soldados do califado conseguiram explodir uma motocicleta-bomba, estacionada perto de um grupo de ;rafidas;", termo pejorativo usado para designar os xiitas, e "quando os apóstatas correram para o local, um dos cavaleiros do martírio detonou seu cinto com explosivos no meio do grupo", informou o EI.
A reivindicação não pôde ser comprovada, mas o texto corresponde ao formato habitual das revindicações do grupo extremista, que não mencionou o conflito na Síria em seu comunicado.
"Acho que existe uma correlação entre toda esta onda de violência e o fato de que o grupo (EI) está em uma posição incômoda" na Síria e no Iraque, explicou Charlie Winter, um especialista no EI.
"O fim do mundo"
"Acabava de chegar à rua quando aconteceu a explosão. Eu mesmo transportei três mulheres e um de seus amigos mortos" nos ataques, disse Zein al Abdin Jadam a uma TV local.
"Quando a segunda explosão ocorreu, achei que fosse o fim do mundo", contou outra testemunha, que não quis se identificar.
Entre julho de 2013 e fevereiro de 2014, houve nove atentados contra redutos do Hezbollah em regiões fiéis ao movimento, a maioria, reivindicados por grupos jihadistas que agiam em represália à decisão do Hezbollah de enviar milhares de combatentes em apoio a Assad.
Há menos de um mês, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, voltou a defender o engajamento na Síria, que qualificou de "batalha essencial e decisiva".
"Sem a perseverança no terreno contra o Daesh (acrônimo em árabe do EI) e seus aliados, o que seria hoje da região do Iraque, da Síria e do Líbano", declarou.
O líder do movimento xiita admitiu que o combate na Síria "pode ser longo", mas reforçou que é necessário para "proteger" a região.
Segundo o último balanço do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), 971 membros do Hezbollah morreram na Síria.