O filósofo e membro da Academia Francesa Christian René Girard, proeminente teórico apelidado de "o novo Darwin das ciências humanas", faleceu na quarta-feira aos 91 anos nos Estados Unidos, anunciou a Universidade de Stanford, onde ensinou por muito tempo. "O professor francês de Stanford, um dos 40 ;imortais; da prestigiosa Academia francesa, faleceu em sua residência de Stanford nesta quarta-feira, após uma longa doença", informou a universidade californiana em um comunicado.
Traduzida em várias línguas e muito admirada também fora do seu país, como nos Estados Unidos ou Itália, a obra de René Girard continua a ser pouco conhecida do grande público francês. "Para um intelectual que por muito tempo foi considerado um escritor contra a corrente e atípico, muinha eleição à Academia é uma forma de reconhecimento", declarou ele ao jornal La Croix, em 15 de dezembro de 2005, dia de sua recepção na Academia Francesa.
"Posso dizer sem exagero que, há meio século, a única instituição francesa que me convenceu que eu não estava esquecido na França, meu próprio país, como pesquisador e como pensador, foi a Academia Francesa", explicou neste mesmo dia em seu discurso para os Imortais.
Para o bispo Claude Dagens de Angoulême, um de seus pares na Academia Francesa entrevistado pela AFP nesta quinta-feira, René Girard era um "audacioso", tratado na França "como um intruso que revalorizou a religião cristã na filosofia". "Isso não lhe rendeu muitos amigos no campo da filosofia", observou o prelado.
O presidente François Hollande expressou nesta quinta "a gratidão da Nação" francesa a este "intelectual exigente e apaixonado, exegeta à curiosidade sem limites". "René Girard era um homem livre e um humanista cujas obras marcaram a história do pensamento", acrescentou em um comunicado.
Apesar de ter sido negligenciado na França, seus livros traduzidos em todo o mundo "ofereceram uma visão audaz e vasta da natureza, da história e do destino humano", acrescentou a universidade de Stanford. O filósofo Michel Serres, igualmente imoratal e professor de Stanford, o apelidou de "o novo Darwin das ciências humanas", lembra a universidade.
Sagradas Escrituras e grandes clássicos
René Girard iniciou sua carreira como teórico de literatura, fascinado por todas as ciências sociais: história, antropologia, sociologia, filosofia, religião, psicologia e teologia. "Influenciou escritores como o prêmio Nobel J.M. Coetzee e o tcheco Milan Kundera, apesar de não ter a fama de seus pares estruturalistas, pós-estruturalistas e outros".
Cristão nascido no Natal de 1923 em Avignon, Girard escreveu muito sobre a diversidade e a unidade das religiões. Este humanista cujo pai era curador da biblioteca e do Museu Calvet d;Avignon, e posteriormente do Palais des Papes, fundou seu pensamento sobre as Sagradas Escrituras, lidas tanto quanto os grandes clássicos da literatura (Proust, Stendhal e Dostoievski).
Ele é conhecido por seu conceito de "desejo mimético", que ele define assim: "É sempre imitando o desejo de meus companheiros que eu introduzo a rivalidade nas relações humanas e, portanto, a violência". Para ele, a Bíblia é um grande negócio para tirar o homem da violência. Passou pela Escola de Charters, arquivista e paleógrafo de formação, René Girard vive desde 1947 nos Estados Unidos. Ele ensinou em muitas universidades como Duke, Johns Hopkins e, especialmente, Stanford, onde por muito tempo dirigiu o departamento de língua, literatura e civilização francesa.
Doutor honoris causa de várias universidades (Amsterdã, Innsbruck, Antuérpia, Pádua, Montreal, Baltimore, Londres ...), terminou sua carreira acadêmica na Universidade de Stanford em 1995, onde vivia desde então. Ele foi o autor de livros como "A violência Sagrada", "Anorexia e Desejo Mimético", "Evolução e Conversão" e "Quando Começaram a Acontecer essas Coisas".