Damasco, Síria - O governo sírio tira proveito de milhares de desaparecimentos forçados no país em guerra, que são um crime contra a humanidade - acusou a Anistia Internacional. Segundo a organização de defesa dos direitos humanos, baseada em Londres, "o Estado se aproveita, por meio de um insidioso mercado negro, dos inúmeros e sistemáticos desaparecimentos forçados".
[SAIBAMAIS]"As famílias que buscam desesperadamente conhecer o destino de seus familiares desaparecidos são cruelmente exploradas por indivíduos que tiram o dinheiro delas", acrescenta a Anistia, em um relatório.
Segundo a ONG, mais de 60 mil civis desapareceram desde o início do conflito, em março de 2011, após a repressão de pacíficas manifestações contra o governo. "As pessoas capturadas se encontram, geralmente, detidas em condições lamentáveis, sem qualquer contato com o resto do mundo. Muitas morrem em consequência de doenças e de torturas, ou são vítimas de uma execução extrajudicial", acusa a organização.
"Os desaparecimentos forçados se tornaram tão sistemáticos na Síria, que se pôs em marcha um mercado negro com ;intermediários;, ou ;negociadores;, que recebem, por baixo do pano, desde centenas a dezenas de milhares de dólares de famílias desesperadas para tentar encontrar seus parentes desaparecidos, ou saber se ainda continuam vivos", acrescenta o documento.
"Estamos certos de que o governo e os responsáveis das prisões se aproveitam das quantias pagas em relação a esses desaparecimentos e centenas de testemunhas confirmam isso", disse à AFP a autora do relatório, Nicolette Boehland. "Essas práticas estão tão disseminadas que é difícil acreditar que o governo não esteja a par, nem as apoie, já que não toma medidas para detê-las", acrescentou.
Segundo a Anistia, opositores do governo, como manifestantes, militantes de direitos humanos, jornalistas, médicos e trabalhadores humanitários, estão entre os desaparecidos. Em alguns casos, "os desaparecimentos forçadas se utilizaram de maneira oportunista para ajustes de contas, ou fins lucrativos, o que alimenta esse fenômeno", acrescenta a ONG.
Para o diretor do programa Norte da África e Oriente Médio, da Anistia, Philip Luther, o Conselho de Segurança das Nações Unidas deve confiar o caso sírio ao Tribunal Penal Internacional, e impor sanções concretas para pressionar as autoridades a pôr fim a essa prática.
Os Estados que apoiam o governo sírio, especialmente Irã e Rússia, "não podem fechar os olhos diante dos crimes contra a humanidade e os crimes de guerra cometidos em massa com seu apoio", completou a ONG.