Jornal Correio Braziliense

Mundo

Finanças do Vaticano são alvo de novo escândalo do Vatileaks

Dois livros, com documentos reservados, serão publicados nesta semana com revelações sobre má gestão. Os autores foram detidos pelo Vaticano por roubo de textos confidenciais

Roma, Itália - As obscuras finanças do Vaticano, marcadas pelo desperdício e pela má gestão das doações para a caridade, são alvo do novo escândalo do Vatileaks com as revelações sobre a estagnação das reformas impulsionadas pelo papa Francisco.

Dois livros, com documentos reservados, aportados pelo padre espanhol Lucio Ángel Vallejo Balda e pela laica italiana Francesca Chaouqui, acusados e detidos pelo Vaticano no último fim de semana por roubo de textos confidenciais, denunciam os grandes males da Cúria Romana.

Os livros, que serão publicados nesta semana, são "Avaricia" de Emiliano Fittipaldi, da revista L;Espresso, e "Via Crucis", de Gianluigi Nuzzi, jornalista do grupo de televisão Mediaset.

Segundo a imprensa italiana, os livros revelam sobretudo a forte oposição interna às reformas financeiras do papa Francisco.


Segundo Fittipaldi, o Vaticano emprega os recursos de doações para os pobres na sua administração central. Cerca de 400 milhões de euros foram desviados do "Óbolo de São Pedro", com doações provenientes de todo o mundo, para a Cúria Romana.

Vários cardeais, inclusive aposentados, residem em luxuosos apartamentos às custas da Cúria Romana, afirma Gianluigi Nuzzi, autor de outro livro com documentos roubados do escritório do papa Bento XVI e que marcou o final desse pontificado.

Segundo Nuzzi, devido à má gestão das finanças vaticanas foram registradas "perdas por diferenças no inventário" e "buracos" de até 700.000 euros no balanço do supermercado do Vaticano e de 300.000 euros no da farmácia vaticana.

Nuzzi disse ainda que o papa presidiu uma reunião a portas fechadas em 2013, lamentando que "os custos estão fora de controle", após indicar um aumento de 30% do número de funcionários em 5 anos.

Segundo Nuzzi, tanto Vallejo como Chaouqui, suas "fontes" queriam "ajudar o papa" com a publicação dos documentos aos que tiveram acesso, como os especialistas da Comissão encarregada de estudar as reformas econômicas da Santa Sé.

"Não é uma maneira de ajudar a missão do Papa", advertiu na segunda-feira (2/11) o Vaticano, que os considera "traidores" e ameaçou denunciá-los inclusive penalmente se for o caso.

"Este trabalho começou há um ano e baseia em informação verificada", garantiu Fippipaldi. "Entendo que o Vaticano esteja preocupado (...). A investigação revela a distância entre a posição do papa e o funcionamento real", comentou o jornalista.

Os livros citam e-mails, atas de reuniões, conversas privadas gravadas e notas que demonstram o excesso de burocracia, a má gestão, o desperdício, os fastos milionários com aluguéis.

Desde o início do seu pontificado, Francisco critica em público a Curia Romana, que para ele é um centro de "intrigas, fofocas panelinhas com ambições de fazer carreira". No passado, durante as celebrações do Natal, o pontífice descreveu as "15 doenças da Cúria", entre elas o "Alzheimer espiritual".