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Perdão do papa aos Legionários de Cristo gera questionamentos

A congregação super conservadora se esforça para limpar passado, marcado pela acusação de pedofilia de seu fundador



A indulgência plenária foi comunicada em uma nota da Penitenciaria Apostólica da Santa Sé com data de 27 de julho de 2015.

Segundo o documento, os legionários e os membros do Regnum Christi, braço secular, poderão alcançar a indulgência plenária "caso renovem por devoção seus compromissos que os vinculam ao Movimento ou à Legião, e rezem pela fidelidade de sua pátria a sua vocação cristã, pelas vocações ao sacerdócio e à vida consagrada, e pela defesa da família".

A indulgência plenária é concedida "quando a organização dedica um tempo convincente à prática das obras de misericórdia", assim como "a ensinar ou aprender a doutrina cristã, ou que ainda participam em missões de evangelização", segundo o texto.

A solicitação de indulgência foi apresentada pelo diretor geral da congregação, o mexicano Eduardo Robles-Gil, para "celebrar dignamente" o 75; aniversário de sua fundação.

A congregação conservadora, fundada em 1941, conseguiu ocultar por décadas as denúncias contra Maciel e contou com a proteção de várias autoridades do Vaticano durante o pontificado de João Paulo II (1978-2005), que considerava os legionários um exemplo de virtude católica.

Com um pedido coletivo de "perdão" pelos "comportamentos graves e objetivamente imorais" cometidos pelo falecido Maciel, apresentado em um comunicado divulgado em fevereiro do ano passado, o movimento prometeu "iniciar uma nova etapa" depois de estar à beira da dissolução por ter protagonizado um dos maiores escândalos da Igreja.

Viagem ao México

A divulgação do decreto papal, assinado pelo Penitenciário-Mor da Santa Sé, o cardeal Mauro Piacenza, levantou dúvidas entre os observadores de assuntos do Vaticano e deu margem a várias interpretações.

"Está em conformidade com o estilo do papa Francisco, de conceder o perdão, embora este perdão não apague as responsabilidade ou a condenação severa dos abusos cometidos tanto de caráter sexual ou econômico", informou à AFP o vaticanista Ignazio Ingrao.

O especialista, autor esta semana de um extenso artigo para a revista Panorama sobre as disputas internas na Cúria Romana e as sabotagens contra as reformas promovidas por Francisco, estima que, com esta decisão, o Papa reconhece de alguma forma "os aspectos positivos" da congregação, o fato de ainda ter muitas vocações.

Outros observadores acreditam que o perdão do Papa a um dos setores mais conservadores e influentes da Igreja, muitos dos quais remam contra suas propostas, como aconteceu durante o recente Sínodo dos Bispos, é uma proposta de trégua.

Uma trégua estratégica em vista de sua primeira viagem ao México, prevista para 2016.

O papa João Paulo II visitou o México cinco vezes durante seu pontificado, enquanto o papa emérito Bento XVI o fez uma vez em março de 2012. A congregação participou ativamente nessas viagens.