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Violência é problema enfrentado por mulheres de todo o mundo, diz ONU

Dados de 102 países mostram que mais de um terço das mulheres do mundo foram vítimas de violência física ou sexual em algum ponto da vida

As mulheres de todo o mundo vivem mais e têm maior escolaridade do que nunca nos últimos 20 anos, mas mais de um terço são vítimas de violência - é o que mostra um relatório da ONU divulgado nesta terça-feira (20/10).

As informações aparecem no documento "The World;s Women" (as mulheres do mundo, em tradução literal), um estudo de cinco anos que fornece um quadro global atualizado sobre o progresso das mulheres e meninas em situações críticas.

O estudo abrangente, o sexto lançado pelas Nações Unidas, inclui novos dados sobre o trabalho não remunerado das mulheres e sobre a violência contra as mulheres - questão que há 20 anos não era alvo de monitoramento, explicou a pesquisadora Francesca Grum.

Dados de 102 países, maior número analisado até hoje, mostram que mais de um terço das mulheres do mundo foram vítimas de violência física ou sexual em algum ponto da vida. "A violência contra a mulher está presente em todos os lugares. É uma preocupação global", disse Grum.

Em todo o mundo, dois de cada três casos de homicídios praticado pela família têm como alvo mulheres - mostrou o estudo. A alta prevalência da violência é acompanhada por um silêncio igualmente difundido, com vítimas que ainda relutam em contar a alguém sobre o calvário.

A equipe de pesquisadores da ONU observou indicadores de 70 países e descobriu que menos de 40% das vítimas quebraram o silêncio - e quando o fazem, preferem falar com amigos e familiares a procurar a polícia ou os serviços de assistência social.



Menos de 10% das vítimas de violência de gênero procuram a polícia. Em um aspecto mais otimista, o relatório descobriu que as atitudes de combate à violência estão começando a mudar em quase todos os países em que as informações sobre o problema estavam disponíveis.

O nível de aceitação de "bater na esposa" diminuiu ao longo do tempo com o aumento da conscientização pública, disse o relatório. Pelo menos 119 países aprovaram leis sobre violência doméstica, 125 dispõem de leis abordando o assédio sexual e 52 têm leis sobre a violação conjugal.

Em março deste ano, o Brasil aprovou uma lei que define como crime hediondo a morte violenta de mulheres por razões de gênero, o feminicídio.

Mulheres trabalham mais
As mulheres de todo o mundo continuam aparecendo em empregos de baixa remuneração, ganhando, em média, entre 70 e 90 por cento do que ganham os homens - segundo o estudo.

Nos países em desenvolvimento, as mulheres gastam em média três horas a mais por dia do que os homens em tarefas domésticas e cuidados com os membros da família - número que cai para duas horas diárias entre as mulheres de países mais ricos. O número de países adotando legislações garantindo auxílio maternidade e benefícios para a família aumentou.

Mais da metade de todos os países oferecem atualmente pelo menos 14 semanas de licença de maternidade, mas estas medidas muitas vezes excluem as trabalhadoras de setores como a agricultura ou do trabalho doméstico. A expectativa de vida das mulheres em todo o mundo é de 72 anos, comparado a 68 para os homens.