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Governo da Colômbia e Farc alcançam acordo sobre desaparecidos

A nova unidade deverá determinar o número exato de desaparecidos no conflito colombiano, que segundo estimativas chegaria a 51.000

Havana, Cuba - O governo da Colômbia e a guerrilha das Farc concretizaram no sábado outro passo para a paz, com um acordo sobre a busca de desaparecidos no conflito armado de meio século, anunciaram diplomatas de Cuba e Noruega, nações responsáveis pela mediação do processo de paz.

O governo colombiano e as Farc "chegaram a dois tipos de acordo: em primeiro lugar aplicar as primeiras medidas imediatas humanitárias de busca, localização, identificação e entrega digna de restos mortais de desaparecidos", afirmou o diplomata cubano Rodolfo Benítez.

As duas partes concordaram ainda em criar uma unidade especializada que ficará responsável pela tarefa, com o apoio do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e do Instituto Médico Legal colombiano.

A nova unidade deverá determinar o número exato de desaparecidos no conflito colombiano, que segundo estimativas chegaria a 51.000.

Esta unidade deverá "estabelecer o universo das pessoas consideradas desaparecidas no contexto e em razão do conflito armado, fortalecer e agilizar os processos para a identificação de corpos em coordenação com o Instituto Nacional Médico Legal e Ciências Forenses", afirmou o diplomata norueguês Dag Nylander.

Além disso, a unidade deverá "coordenar e antecipar processos de busca e identificação, localização e entrega digna de restos mortais" de desaparecidos a suas famílias.

O acordo foi anunciado por Benítez e Nylander no sábado à noite em Havana, sede dos diálogos de paz, na presença das delegações negociadoras, lideradas por Humberto de la Calle (governo) e Iván Márquez (Farc).


O pacto sobre desaparecidos foi alcançado depois do compromisso histórico anunciado em 23 de setembro pelo presidente colombiano Juan Manuel Santos e o principal líder das Farc, Timoleón Jiménez, "Timochenko", sobre a assinatura de um acordo de paz até 23 de março.

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) iniciarão o desarmamento 60 dias depois da assinatura do acordo para virar um movimento político, segundo o compromisso anunciado por Santos e Timochenko na presença do presidente cubano Raúl Castro.

As duas partes se comprometeram no sábado a divulgar todas as informações disponíveis sobre desaparecidos, assim como locais com vítimas enterradas de forma irregular, ou sepultadas em cemitérios sem identificação.

"No dia de hoje chegamos a acordos sobre uma série de medidas imediatas de construção de confiança que contribuam para a busca, localização, identificação e entrega digna de pessoas dadas por desaparecidas", disse Iván Márquez à imprensa. "As medidas serão aplicadas imediatamente", completou.

Após o anúncio, as negociações de paz em Havana devem ser retomadas em 27 de outubro. O conflito interno colombiano envolve guerrilhas, paramilitares, agentes do Estado e grupos de narcotráfico. De acordo com números oficiais, 220.000 pessoas morreram em quase meio século de conflito.