O regime sírio lançou nesta sexta-feira (16/10) uma grande ofensiva contra os rebeldes perto de Aleppo para retomar a estrada que liga as principais cidades do país, enquanto a vizinha Turquia anunciou ter derrubado um drone, que seria russo segundo Washington, o que nega Moscou.
Prova do seu crescente envolvimento no conflito sírio, que já deixou mais de 250.000 mortos desde março de 2011, a Rússia, aliada incondicional do regime de Bashar al-Assad, anunciou que sua força aérea havia realizado 600 voos e realizou ataques contra mais de 380 alvos desde o início de sua intervenção em 30 de setembro.
A Rússia afirma bombardear grupos "terroristas", incluindo a organização jihadista Estado Islâmico (EI), mas do lado oposto, americanos, europeus e turcos, que insistem em uma partida de Assad, acusam Moscou de ter como principal alvo os rebelde que eles chamam de "moderados".
A Turquia anunciou que seus caças derrubaram um drone, cuja nacionalidade não foi especificada, que havia violado o seu espaço aéreo perto da fronteira com a Síria. De acordo com uma autoridade americana, "tudo indica" que o drone era russom, mas Moscou logo garantiu que todos os aviões envolvidos na Síria retornaram para sua base e que os seus drones estão "operando normalmente".
Apoiado pela aviação russa, o exército sírio abriu uma "nova frente" de combate perto de Aleppo (norte) e recuperou o controle das aldeias de Kaddar e Abtine, de acordo com Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH). Nas últimas 24 horas, "dezenas" de ataques russos atingiram esta área controlada por grupos rebeldes, incluindo a Frente al-Nusra, o ramo sírio da Al-Qaeda, e outros grupos islâmicos, acrescentou.
Iranianos, iraquianos e Hezbollah
Uma fonte militar disse à AFP que "cerca de 3.000 combatentes pró-regime estão envolvidos nos combates em Aleppo, incluindo centenas de iranianos e milicianos do Hezbollah libanês, assim como iraquianos." "Uma força militar maciça, apoiada por veículos blindados, avançou para o sul de Aleppo com uma cobertura aérea da Rússia", acrescentou.
No chão, uma fonte da segurança falou de uma "grande operação com a participação de nossos aliados e amigos". Ela disse que os "aliados" são os russos e os "amigos" são "os iranianos e o Hezbollah".
A cidade de Aleppo está dividida desde 2012 entre setores ocidentais nas mãos do regime e as áreas sob controle da Frente al-Nusra e seus aliados e grupos insurgentes locais. O exército do regime também controla áreas fora dos limites norte da cidade e o IE está no norte da província de mesmo nome.
Estimuladas pela intervenção russa, as forças do regime lançaram ofensivas especialmente nas províncias de Homs, Hama e Aleppo.
A partir dessas três áreas, os militares procuram retomar uma rodovia de 360 km que liga Damasco a Aleppo, construída na década de 1960 para ligar as principais cidades do país. Apesar de o trecho Damasco-Homs estar nas mãos do regime, parte dos 185 km entre Homs e Aleppo está nas mãos de islamistas e da Frente al-Nusra.
Mortos e refugiados
Por hora, apesar de 17 dias de ataques aéreos russos e o envolvimento de dezenas de milhares de homens, o regime sírio não registrou nenhuma vitória decisiva, apesar de ter reconquistado várias aldeias.
Em todo cado, a intensificação dos ataques aéreos na Síria complicam ainda mais a distribuição, já difícil, de ajuda humanitária às milhões de pessoas que necessitam, declarou nesta sexta-feira à AFP o chefe de operações humanitárias da ONU.
Em razão dos ataques aéreos, "não pudemos enviar o número de comboios" de ajuda que seria necessário", acrescentou. Desencadeada por uma revolta popular brutalmente reprimida, o conflito na Síria se transformou em guerra aberta de extrema complexidade, com uma multiplicidade de atores.
De acordo com um relatório recente do OSDH, que conta com uma vasta rede de fontes na Síria, 250.124 pessoas morreram desde março de 2011, incluindo 74.426 civis, entre elas 12.517 crianças. O OSDH também contabilizou 43.752 mortes entre os rebeldes e 37.010 entre os combatentes estrangeiros. Do lado das forças pró-regime, foram 91.678 mortes.
O conflito também forçou milhões de sírios a fugir do seu país.