Washington, Estados Unidos - O presidente americano, Barack Obama, anunciou nesta quinta-feira (15/10) que irá manter milhares de soldados americanos no Afeganistão depois de 2016, considerando esta presença militar indispensável para ajudar as forças afegãs.
Ao mesmo tempo, o chefe do Pentágono, Ashton Carter, declarou que espera contribuições de seus aliados. "Esperamos que o engajamento americano incentive o engajamento de outros membros" da coalizão da Otan no Afeganistão, declarou durante uma breve coletiva de imprensa, destacando que já iniciou consultas a este respeito.
Carter acrescentou já ter iniciado "consultas com aliados fundamentais para garantir a continuidade de seu apoio a esta missão". Segundo o chefe do Pentágono, os Estados Unidos gradualmente pretendem reduzir sua presença no Afeganistão, "mas não nosso compromisso com o país". A tarefa americana no Afeganistão "é e continuará sendo, primeiro que tudo, operações de contraterrorismo" e em segundo lugar as responsabilidades de "treinar, assessorar e ajudar" as tropas afegãs.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, saudou a decisão de Obama e destacou que será "crucial" continuar apoiando as forças afegãs.
A "contribuição americana será um fator significativo" mas "decisões-chave" que a Aliança Atlântica tomará nas próximas semanas sobre o futuro de sua operação no Afeganistão, disse Stoltenberg em Bruxelas.
Apesar do fim oficial das operações de combate há dez meses, a decisão de prorrogar a intervenção militar iniciada há 14 anos constitui uma derrota para o presidente democrata, eleito em 2008 sob a promessa de acabar com as guerras no Afeganistão e no Iraque.
O presidente Obama justificou sua decisão pelo fato de que "as tropas afegãs não são ainda tão fortes quanto deveriam ser", destacando os avanços dos rebeldes talibãs nas zonas rurais do país. Ele também advertiu para a ascensão do grupo Estado Islâmico (EI) e considerou que a segurança do país continua "muito frágil".
"Eu não vou deixar o Afeganistão ser usado como um refúgio para os terroristas que visam atacar nosso país de novo", insistiu o presidente dos Estados Unidos que, portanto, não verá as tropas americanas deixarem o solo afegão antes de ele mesmo deixar a Casa Branca, em janeiro de 2017.
[SAIBAMAIS] O comandante em chefe das Forças Armadas anunciou a manutenção de 9.800 soldados americanos para o ano de 2016. Para depois de 2016, 5.500 soldados serão mantidos em um pequeno número de bases, incluindo a de Bagram (perto de Cabul), Jalalabad (leste) e Kandahar (sul).
"Este pequeno, mas significativo contingente (...) pode fazer uma diferença real", assegurou Obama.
Até agora, Washington esperava deixar ao final de 2016 uma força residual de cerca de mil homens na embaixada em Cabul. Contudo, o governo Obama insiste que a "missão de combate" terminou e que as forças americanas vão continuar a realizar "duas missões específicas": antiterrorismo e formação e aconselhamento das forças afegãs.
Mais de 2.300 soldados americanos morreram na grande intervenção militar no Afeganistão, lançada após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
Escolha do ;próximo presidente;
Em várias ocasiões, o chefe do Executivo afegão, Abdullah Abdullah, defendeu uma mudança no calendário americano. "A necessidade de apoio continuado às forças afegãs é clara", disse recentemente.
Uma opinião partilhada pela Otan, que nesta quinta-feira saudou a decisão do presidente Obama, dizendo que era "fundamental" continuar a apoiar o exército afegão.
Várias ofensivas recentes do Talibã, como em Kunduz (norte), demonstraram que as forças afegãs não conseguem garantir a segurança do país sozinhas, apesar dos US$ 60 bilhões gastos por Washington durante 14 anos para equipar e treiná-los.
Em uma declaração à AFP em Cabul, um porta-voz talibã, Zabiullah Mujahid, prometeu que os rebeldes vão continuar seus ataques "até o último invasor ser expulso".
A administração de Obama foi muito criticada por seus planos de retirar as forças americanas do Afeganistão.
Seus opositores dizem que o movimento torna o país mais suscetível aos ataques dos talibãs, que há duas semanas tomaram a cidade de Kunduz, sua maior vitória militar desde a invasão de 2001 de uma coalizão liderada por Estados Unidos. Mas uma resposta rápida das forças de segurança afegãs treinadas pelos americanos levou à rendição dos talibãs. E lembrando o caso do Iraque, de onde dizem que o presidente retirou as tropas americanas muito cedo, em 2011, afirmam que tal medida deixa o campo aberto ao Estado Islâmico.
Para Obama, o "objetivo sempre foi dar a melhor chance possível ao Afeganistão". "Minha abordagem consiste em avaliar a situação no terreno, determinar o que funciona e o que não funciona e fazer os ajustes necessários", acrescentou, reconhecendo que caberia "ao novo presidente" tomar novas decisões sobre o difícil caso afegão.