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Turquia enterra vítimas de atentado de Ancara

Explosões no sábado (10/10) deixaram ao menos 95 mortos. Governo decretou luto oficial



A Turquia estava de luto neste domingo (11/10) pela morte de 95 pessoas na véspera no pior atentado de sua história, lançado em Ancara contra uma manifestação pacifista e que aumenta os temores pela estabilidade do país.

O primeiro-ministro, Ahmed Davutoglu, declarou três dias de luto nacional, enquanto seguem as dúvidas sobre quem e como lançou o atentado, no qual 246 pessoas ficaram feridas, segundo o governo.

Até o momento, ninguém reivindicou o massacre e não houve nenhuma detenção. Davutoglu disse no sábado que há fortes indícios de que a dupla explosão foi provocada por dois suicidas.

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Perto do local das explosões, milhares de pessoas se manifestaram neste domingo convocadas pelos mesmos sindicatos, ONGs e partidos pró-curdos que organizaram a concentração de sábado.

Os manifestantes foram homenagear as vítimas e denunciar a responsabilidade do poder e do presidente Recep Tayyip Erdogan no ataque, a gritos de "governo renuncie" e "Erdogan assassino".

Em todo o país, as bandeiras ondeavam a meio mastro, e durante o dia se espera que os primeiros enterros sejam realizados.

"Uma bomba em nossos corações", afirmava o jornal Hurriyet em sua primeira página neste domingo.

A dupla explosão de Ancara aumenta a tensão no país, a três semanas das eleições legislativas antecipadas de 1; de novembro.

Nelas, o presidente Recep Tayyip Erdogan espera recuperar a iniciativa política depois de ter perdido nas eleições de junho a maioria absoluta que possuía no Parlamento há 13 anos.

As eleições serão realizadas três meses após a retomada do conflito armado entre as forças turcas e os rebeldes curdos, contra o qual as vítimas do atentado de Ancara iam se manifestar.

O presidente islamita-conservador Erdogan condenou o ataque e cancelou uma visita prevista ao Turcomenistão, mas desde o atentado ainda não falou em público.


Tensão com os curdos




Segundo as autoridades, 95 pessoas morreram e 246 ficaram feridas na dupla explosão, ocorrida às 10h04 locais (04h04 de Brasília) diante da principal estação de trens de Ancara.

Milhares de pessoas de todo o país se dirigiram ao local convocadas por sindicatos, ONGs e partidos opositores de esquerda contra a retomada do conflito entre o exército e os rebeldes curdos. Dos feridos, 48 seguiam em unidades de tratamento intensivo.

"Pode se tratar do 11 de setembro da Turquia", estimou Soner Cagaptay, do Washington Institute. "Ocorreu no coração da capital turca, diante da estação central, símbolo da Ancara de Ataturk", o fundador da República Turca em 1923.

O principal partido pró-curdo da Turquia, o HDP, um dos que convocaram a marcha, estimou o número de mortos em 128, um número que não foi confirmado pelo governo.

No sábado, Davutoglu apontou como suspeitos os jihadistas do Estado Islâmico, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), atualmente em conflito aberto com Ancara, e a Frente Revolucionária de Libertação do Povo (DHKP-C), de extrema-esquerda.

Mas o líder do HDP, Selahattin Demirtas, disse que o governo tem uma responsabilidade direta, e denunciou um "estado assassino que se transformou em uma máfia".

Há várias semanas reina uma forte tensão entre o poder e o HDP, que aumentou com a aproximação das eleições e com os confrontos entre o exército turco e os rebeldes curdos no sudeste do país.

Erdogan acusa o HDP de ser cúmplice dos "terroristas" do PKK, um grupo ilegal na Turquia ao qual prometeu aniquilar.

Por sua vez, o partido pró-curdo acusa o governo de manter vínculos com os jihadistas do Estado Islâmico.

No dia 20 de julho, 33 militantes da causa curda morreram em Suruç, perto da fronteira síria, em um atentado atribuído ao EI.

O PKK acusou o governo de Ancara de colaborar com os jihadistas para fazer uma frente comum contra os curdos. Valendo-se deste argumento, os rebeldes retomaram seus ataques contra a polícia e o exército, provocando as represálias das forças turcas.

Esta escalada de violência lançou pelos ares as negociações de paz realizadas por Ancara e pelos rebeldes para tentar colocar fim a um conflito que desde 1984 já deixou 40.000 mortos.

O PKK, o no entanto, anunciou no sábado horas após o atentado de Ancara a suspensão de sua atividade armada antes das eleições, "salvo se nossos militantes e combatentes forem atacados".

[SAIBAMAIS]