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Papa: doutrina sobre o casamento não foi modificada no primeiro sínodo

Ele acrescentou que os padres sinodais "não deveriam se deixar condicionar como se o único problema fosse a questão dos divorciados recasados"

O papa Francisco falou nesta terça-feira (6/10) ante o sínodo sobre a família para lembrar que a doutrina sobre o casamento não foi afetada no primeiro sínodo em 2014. Muitas intervenções críticas, sobretudo sobre o funcionamento do sínodo, e preocupações expressas por alguns conservadores sobre como manter a doutrina aos divorciados novamente casados %u200B%u200B(atualmente proibidos de comungar) levaram o Papa a expressar-se de forma inesperada.

De acordo com o padre Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé, Francisco quis tranquilizar alguns prelados, afirmando que "a doutrina sobre o casamento não tinha sido tocada na reunião anterior" do sínodo em 2014. Ele acrescentou que os padres sinodais "não deveriam se deixar condicionar como se o único problema fosse a questão dos divorciados recasados", mas não mencionou especificamente outros problemas a resolver.

De acordo com a ata dos trabalhos, entre os temas abordados figuram a violência contra as mulheres, as famílias desfeitas pela imigração, os homossexuais que devem ser acolhidos "fraternalmente", a necessidade de formação (catecumenato), antes e depois do casamento, a poligamia e o casamento por etapas na África, com cada participante emitindo posições muito variadas e livres.

A "questão da linguagem adequada para evitar a impressão de julgamentos negativos vis-à-vis a situações e pessoas" também tem sido um dos temas recorrentes. "É preciso acabar com a linguagem da exclusão, tratar as pessoas como elas são e dizer a elas que Deus quer que elas avancem", afirmou um participante.



Alguns bispos, particularmente os africanos, foram muito críticos quanto a "uma nova ética global que desorienta as famílias": "se a porta está aberta, os lobos podem entrar no rebanho", disse um deles. A homossexualidade, que se impôs no debate com a revelação no sábado de um padre polonês da cúria, foi objeto de duas das 72 intervenções.

Durante estas intervenções, houve menção de uma "tendência natural" e da necessidade de um acolhimento fraterno das pessoas, argumentando que elas não devem ser tratadas como "outsiders" ou comiseração. "O papa, que é informado de tudo, tranquiliza e esclarece" quando ele diz que não haverá mudanças na doutrina sobre o casamento, analisou Romilda Ferrauto, jornalista da Rádio Vaticano.

Segundo ela, os dois campos opostos no ano passado - aqueles que insistiam no respeito intransigente da doutrina e aqueles que defendiam soluções misericordiosas para situações concretas - permanecem cara a cara, com uma maioria em busca de soluções viáveis. Alguns criticaram o início do Sínodo, temendo "voltar à estaca zero" do ano passado, segundo um dos relatores dos trabalhos.