Dezesseis funcionários da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) morreram neste sábado em um hospital da cidade afegã de Kunduz em um provável bombardeio americano que, segundo a ONG, prosseguiu por 30 minutos, apesar de Washington ter sido alertado para o erro. Dezenas de pessoas ficaram gravemente feridas no ataque ao hospital, que pegou fogo.
O estabelecimento da MSF em Kunduz é um centro sanitário-chave na região e estava funcionando além de sua capacidade durante os recentes combates entre o exército e os talibãs, que assumiram o controle da cidade durante vários dias.
"O centro de traumatologia da MSF em Kunduz foi atingido várias vezes durante um bombardeio prolongado e ficou muito danificado", informou a ONG em um comunicado. "Confirmamos a morte de membros da MSF durante o bombardei (...) 37 pessoas estão gravemente feridas e se desconhece o paradeiro de muitos funcionários e pacientes", acrescenta o texto.
A MSF também denunciou que o bombardeio prosseguiu mais de 30 minutos depois que a ONG médica avisou aos exércitos americano e afegão estava sendo atingido por projéteis.
A MSF exigiu que se esclareça rapidamente as circunstâncias do ataque no qual morreram seus funcionários e que pode ser obra das forças americanas.
No momento do bombardeio, 105 pacientes e pessoal sanitário e mais de 80 funcionários internacionais e locais se encontravam no hospital.
A organização informou na véspera que 59 crianças estavam sendo atendido no centro.
Segundo a Otan, um ataque aéreo americano "pode ter" atingido o hospital da MSF.
"As força americanas realizavam um ataque aéreo em Kunduz contra pessoas pessoas que ameaçavam as forças da coalizão, o que pode ter provocado danos colaterais em um centro médico nas proximidades do alvo", declarou o coronel Brian Tribus, porta-voz da missão da Otan no Afeganistão à AFP.
Um residente local contou que seis amigos seus, todos médicos e enfermeiros, se encontram desaparecidos e que familiares das pessoas internadas estão com medo de sair de casa por causa dos dispraros entre exército e talibãs.
Consternação
O centro de traumatologia da MSF em Kunduz é a única instalação médica na região que pode tratar lesões graves.
"Estamos profundamente consternados com o ataque, pela morte de nossos empregados e pelo alto preço infringido a um centro de saúde de Kunduz", declarou o diretor de operações da MSF, Bart Janssens.
"Nossa equipe médica está proporcionando os primeiros socorros e o tratamento de pacientes feridos. Pedimos a todas as partes que respeitem a segurança das instalações de saúde e de seu pessoal", acrescentou.
Kunduz está mergulhada numa crise humanitária, com milhares de civis encurralados pelo fogo cruzados das duas forças, as tropas do governo e os rebeldes talibãs.
No momento, não se conhece com exatidão o número de vítimas dos combates travados nessa localidade, mas as autoridades disseram na sexta que ao menos 60 pessoas morreram e 400 ficaram feridas.
Em um comunicado, os talibãs acusaram "as forças americanas bárbaras" de ralizar o ataque contra o hospital de "forma deliberda, matando e ferindo dezenas de médicos, enfermeiras e pacientes".
Desde que foram expulsos do poder em 2001 por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos, os talibãs concentram seus ataques em seus redutos do sul.
Mas, no últimos meses, reforçaram suas posições na zona de Kunduz, uma cidade estratégica na rota para o Tadjiquistão.
O exército talibã assegurou ter recuperado o controle de Kunduz, mas isso está longe de significar uma vitória no longo prazo de Cabul contra os talibãs,
Durante três dias de ocupação, muitos moradores fugiram e a possibilidade do retorno ao regime fundamentalista dos talibãs (1996-2001) assustou especialmente as mulheres.
A breve tomada de Kunduz, com 300.000 habitantes, constituiu o primeiro grande êxito do novo líder dos talibãs, o mulá Akhtar Mansur, nomeado após o anúncio em julho da morte de seu antecessor, o mulá Omar.
A designação provocou divisões internas no grupo.