Copenhague, Dinamarca - As charges de Maomé publicadas em um jornal dinamarquês há dez anos seguem alimentando atualmente o debate sobre os limites da liberdade de expressão. Estes 12 desenhos, publicados no jornal Jyllands-Posten no dia 30 de setembro de 2005, mostravam o profeta portando uma bomba no lugar de um turbante, ou um nômade armado com uma faca junto a duas mulheres com um véu preto.
A faculdade Al-Azhar do Cairo, grande centro de estudos sunitas, condenou, por exemplo, em janeiro os desenhos da Charlie Hebdo, mas convocou os muçulmanos a ignorá-los, embora seu apelo não tenha esfriado a tensão no mundo muçulmano. "E esta polêmica não se limita à região. As caricaturas também geram revolta e indignação em muitos muçulmanos nos Estados Unidos e na Europa", ressalta Scott Stewart, analista da companhia americana especializada em serviços de inteligência Stratfort. "Por sorte, muitos não transformam esta ira em violência".
A ameaça provém sobretudo, segundo ele, dos grupos islamitas radicais, que instrumentalizam as charges para "encorajar os jihadistas de base a lançar ataques violentos no Ocidente".
Muito perigoso
Assim, em fevereiro, um dinamarquês de origem palestina, Omar al-Hussein, atacou um centro cultural em Copenhague durante um debate sobre a liberdade de expressão, no qual participava o artista sueco Larsk Vilks, que em 2007 representou Maomé como um cachorro. Em poucas horas, matou duas pessoas.
Para o Jyllands-Posten, a decisão de publicar estas charges teve repercussões espetaculares, embora a redação a considerasse uma rotina. O correio é inspecionado cuidadosamente antes de ser aberto, as janelas estão projetadas para resistir a bombas e os alarmes de incêndio, que antes faziam os trabalhadores saírem às ruas, agora podem conduzi-los a salas fortificadas. O jornal foi a única publicação dinamarquesa que não divulgou em janeiro a caricatura da Charlie Hebdo.
Quando são completados dez anos desde o caso das charges, os meios de comunicação dinamarqueses deveriam falar disso, mas sem mostrá-las. "Seria considerado muito perigoso", confirma à AFP o autor de um destes desenhos, Kurt Westergaard.
Flemming Rose, o então chefe da seção cultural que havia pedido para os chargistas representarem Maomé, classificou recentemente de ingênua sua decisão. Para Rose, é aceitável que os editores decidam não publicar os desenhos desde que eles sejam honestos sobre os motivos para isso. "Você não deve apontar o dedo porque as pessoas estão com medo. Mas você tem o direito de apontar o dedo se as pessoas não são honestas sobre seus medos e tentam encontrar outras justificativas", havia declarado ao jornal Politiken.