Washington, Estados Unidos - O papa Francisco chegou nesta quinta-feira pela manhã ao Congresso de Washington, onde fará um discurso histórico, um dia depois de seu encontro com o presidente Barack Obama na Casa Branca.
É a primeira vez que um papa se dirigirá às duas câmaras do Congresso americano.
Está previsto que aborde temas como clima, migração, pena de morte, família e capitalismo.
Depois o papa viajará para Nova York, onde pronunciará um discurso na Assembleia Geral da ONU e presidirá uma cerimônia ecumênica no World Trade Center.
Na véspera, Obama e Francisco demonstraram um discurso afinado sobre os desafios mundiais como a imigração e a mudança climática, durante o início da visita do popular pontífice aos Estados Unidos, aclamado nas ruas de Washington.
O jesuíta argentino de 78 anos, que pela primeira vez pisa em território americano, começou sua visita sob o lema da defesa dos excluídos e daqueles que são forçados a emigrar, mas também insistiu em continuar o combate à pedofilia.
"Como filho de uma família de imigrantes, me alegra estar neste país, que foi construído em grande parte por tais famílias", afirmou o papa em um inglês fluido mas com sotaque, referindo-se à polêmica política de migração latina nos Estados Unidos.
Sob um céu azul e claro na fresca manhã da capital americana, diante de mais de 10.000 pessoas nos jardins da Casa Branca, Obama elogiou a "mensagem de amor e esperança" do pontífice, fonte de inspiração para "muitas pessoas" no mundo.
O presidente também elogiou a "humildade" e "simplicidade" do jesuíta, assim como a "gentileza de suas palavras".
A menos de 500 dias para o fim do segundo mandato de Obama, o governante conta com o apoio do papa em dois temas prioritários: Cuba e a mudança climática.
O presidente agradeceu a Francisco seu "apoio inestimável" na histórica aproximação iniciada em 2014 entre Havana e Washington, destacando que ele levava "uma vida melhor para os cubanos".
Sobre a luta contra a mudança climática, prioridade do governo de Obama, o pontífice insistiu em um combate "que não se pode deixar para a próxima geração". E comemorou o plano da Casa Branca para reduzir a contaminação ambiental.
Papa futurístico
"Viva o papa", gritava um grande coro de latinos reunidos na Casa Branca. Francisco cercou-se de multidões nos arredores da residência presidencial após se reunir em privado com Obama no Salão Oval.
A bordo do papamóvel - um Jeep Wrangler branco de teto transparente e aberturas laterais - Francisco saudou sorridente milhares de pessoas que estavam atrás das barreiras.
Mas Sophia Cruz, uma menina de 5 anos de origem latina, saltou a grade e correu em direção ao papamóvel. Os guardas a detiveram no meio do caminho, mas o pontífice fez sinais para que a levassem.
Por seu atrevimento, Sophia ganhou um carinho, depois um abraço e um beijo do próprio Francisco, que provocou lágrimas no pai da criança e o fervor da multidão.
"Foi fantástico. Acredito que ele é muito diferente, como um papa futurístico. Com os pés na terra, tão humilde, tão amoroso, e simplesmente liderando com o exemplo", disse à AFP Cristina Temboury.
"É um líder fantástico, alguém de que precisamos", completou esta funcionária de 46 anos, rindo porque sem querer tinha 15 fotos de si mesma enquanto o papa passava.
O ambiente era festivo, pais com seus filhos sobre os ombros, muitos deles presentes desde a madrugada à espera de um olhar do papa, que chegou na terça-feira proveniente de Cuba.
Washington, geralmente indiferente às caravanas de ilustres líderes que passam por suas ruas, experimentou uma "papamania" por Francisco, aproveitada por vendedores ambulantes de todo tipo de souvenires papais.
Em um ato incomum, Obama, de fé protestante, recebeu pessoalmente na terça-feira em uma base militar o jesuíta argentino.
Condenação à pedofilia
Em uma sessão de oração com os padres americanos na catedral de St. Matthews, o papa enviou diretrizes à Igreja americana, desde os casos de pedofilia à acolhida de imigrantes.
"Eu sei o quanto os fez sofrer o ferimento dos últimos anos, e tenho acompanhado de perto seu generoso esforço para curar as vítimas, consciente de que, quando curamos, também somos curados, e por continuar a trabalhar para garantir que esses crimes não se repitam mais", disse o pontífice em uma curta passagem de um longo discurso.
Cerca de 6.400 padres católicos foram acusados de abusar de menores nos Estados Unidos entre 1950 e 1980, e ativistas acreditam que o número pode estar em torno de 100.000.
Ainda assim, a visita de Francisco coincide com um crescimento do número de católicos americanos, que somam cerca de 82 milhões de pessoas, um quarto da população do país, segundo a Universidade de Georgetown.
E seguindo sua mensagem sobre imigração, pediu à igreja que acolha "sem medo" a "grande onda" de migrantes de origem latino-americana.
Em seu último ato na quarta, papa foi à Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição, onde realizou uma missa para canonizar o evangelizador espanhol do século XVIII Junípero Serra.
A cerimônia é polêmica para as comunidades indígenas da Califórnia, que veem no monge franciscano um responsável por mortes e a extinção de sua cultura.