As autoridades gregas trabalhavam terça-feira (8/9) para abrir novos centros de atendimento para os milhares de refugiados que chegam todos os dias em suas ilhas, um êxodo que o presidente da União Europeia alertou que pode durar anos. O ministro da Imigração grego admitiu que a ilha de Lesbos está prestes a explodir com a chegada de milhares de pessoas.
[SAIBAMAIS]As autoridades decidiram expandir suas capacidades para atender os 30.000 refugiados que, segundo a ONU, estão espalhados por várias ilhas do mar Egeu, 20.000 deles em Lesbos.
Nas últimas horas, a tensão tem aumentado nesta ilha, onde guardas costeiros e policiais armados com cassetetes tentam controlar no porto cerca de 2.500 pessoas que queriam embarcar em uma balsa rumo a Atenas. "Foram três dias horríveis... Não há quartos, nenhum hotel, nem banheiros, não há camas, nada", explica Hamzat Husam, um engenheiro sírio de 27 %u200B%u200Banos que conseguiu nesta terça-feira, após horas de espera, os papéis para sair da ilha.
Cenas de caos em toda a Europa evidenciam as dificuldades dos governos de controlar a chegada de milhares de pessoas que fogem da guerra e da miséria do Oriente Médio e na África. "A onda de migração não é um incidente isolado, mas o início de um êxodo real, o que significa que temos de lidar com este problema nos próximos anos", disse Tusk.
Frente ao desespero dos migrantes, países ao redor do mundo, incluindo vários latino-americanos, ofereceram-se para recebê-los. A Venezuela anunciou que acolheria 20.000 pessoas, o mesmo número que o Reino Unido propôs para cinco anos.
Enquanto isso, a presidente brasileira, Dilma Rousseff, afirmou que receberia os refugiados de braços abertos, enquanto a sua colega chilena, Michelle Bachelet, disse que seu governo estava trabalhando para receber "um grande número" de pessoas.
Na Europa, a Alemanha, a maior economia do continente, se comprometeu em receber 500.000 refugiados a cada ano a médio prazo, e a chanceler Angela Merkel previu que esse fluxo mudará profundamente o país. "Estou aqui há oito, nove dias, nem sei mais ao certo", diz Aleddin, um estudante de engenharia bloqueado em Lesbos e que tenta chegar à Alemanha para se juntar ao seu irmão. "Alguns estão aqui há 14 ou 15 dias, o governo [grego] não se importa", diz ele.
Na segunda-feira (7/9), poucas horas depois do resgate de 61 pessoas ao largo da costa da ilha de 85.000 habitantes, o ministro grego de Imigração, Iannis Mouzalas, reconheceu que Lesbos está "prestes a explodir".
Enquanto isso, o líder do partido conservador Nova Democracia, Evangelos Meimarakis, disse nesta terça-feira que a Grécia deve reforçar sua defesa nas fronteiras para frear a chegada de migrantes.
"No que se refere aos imigrantes, as fronteiras devem estar melhor protegidas e a Grécia não deveria enviar a mensagem de que ;aqui é bom, venham para cá;", disse em entrevista à rede Star Meimarakis. "Porque quem chega aqui envia essa mensagem aos que esperam", completou.
O Nova Democracia governou a Grécia até janeiro, quando o partido de Alexis Tsipras, Syriza, chegou ao poder. O antecessor de Tsipras, Andonis Samarás, manteve uma política migratória linha dura, que mantinha imigrantes e refugiados em campos de retenção. Tsipras suavizou esta política ao assumir o cargo.
Na Líbia, a guarda costeira resgatou 120 pessoas a bordo de um bote, que se somam às 366.402 pessoas que tentaram atravessar o Mediterrâneo este ano, metade deles sírios, segundo dados da ONU.
Na frente política, os países da UE estão divididos sobre como responder à crise, e a chanceler alemã considerou que a proposta do presidente da Comissão Europeia para acolher 120.000 refugiados nos países do bloco é apenas "um primeiro passo", porque o número de refugiados é muito variável.
De acordo com o plano de Juncker, que será apresentado na quarta-feira, a Alemanha teria de acomodar 31.000 pessoas, a França 24.000 e a Espanha quase 15.000. Em Genebra, o representante especial para Migração e Desenvolvimento, Peter Sutherland, pediu "uma resposta europeia como parte de uma resposta global" e sugeriu a organização de uma conferência internacional sobre a questão.