Doações que superam recordes, fundos de emergência e mobilização popular: a imagem do corpo sem vida do pequeno Aylan Kurdi, menino sírio encontrado em uma praia turca, provocou uma imensa onda de solidariedade com os migrantes, sem precedente na Europa.
[SAIBAMAIS]Na Holanda, onde as pessoas estavam relativamente passivas frente à crise migratória, a imagem foi "um enorme catalizador" para as doações, assegurou à AFP um funcionário do Conselho para os refugiados. "Antes, as pessoas tinham um pouco de medo dos refugiados, mas agora estão percebendo que devemos agir", completou o funcionário, que pediu anonimato.
O pequeno Aylan Kurdi, sírio de 3 anos, se afogou com outras 11 pessoas - entre elas seu irmão de 5 anos e sua mãe - com o naufrágio de duas embarcações que levavam migrantes na noite de terça para quarta-feira da cidade turca de Bodrum à ilha grega de Cós, uma das travessias marítimas mais curtas entre Turquia e Europa.
As imagens do corpo de Aylan sobre a areia tiveram o feito de um choque elétrico. O mundo do esporte manifestou sua solidariedade: o comitê olímpico criou um fundo de emergência de dois milhões de euros para programas de ajuda e o clube Bayern de Munique anunciou na última quinta-feira uma doação de um milhão de euros.
O clube pretende arrecadar o dinheiro com um amistoso. Além disso, os jogadores da equipe entrarão em campo segurando uma criança alemã em uma das mãos mão e na outra, um jovem refugiado, para a próxima partida do campeonato, no dia 12 de setembro contra o Augsburg.
Recorde de doações
A ONG maltesa Migrants Offshore Aid Station (Moas) recebeu uma quantidade recorde de 600 mil euros em doações desde a divulgação da foto. "A onda de indiferença está retrocedendo", declarou à AFP Christan Peregrin, porta-voz da ONG. Mais de 10 mil doadores apareceram nas últimas 48 horas, especialmente dos Estados Unidos e do Reino Unido mas também da Turquia, Alemanha e inclusive do Brasil, indicou a ONG maltesa.
Na Suíça, a ONG Corrente da Felicidade recebeu 550 mil euros de segunda à quarta-feira. Desde quinta, a organização recebeu 1,1 milhão de euros. A organização holandesa para desabrigados (CAO) teve que contratar seis telefonistas a mais na última quinta-feira porque estava "transbordando" de chamadas para doações voluntárias.
Na Suécia, Jonas Elgquist, diretor da empresa de informática B3IT, convenceu seus colaboradores a ajudar os refugiados com o orçamento que destinado para um passeio a Roma, com 42,5 mil euros. "Estava indo para uma reunião quando vi a foto do menino. Fiquei muito comovido. Poderia ter sido um de meus filhos. Falei com meus colegas e decidimos cancelar a viagem", disse à AFP.
Em seu site, a organização sueca Radiohj;lpen, que recebe todo ano fundos para projetos, indicou ter recebido mais de 630 mil euros de doações em dois dias.
A foto do pequeno Aylan "acelerou o compromisso" popular, disse Malin Lager, porta-voz do Médicos sem Fronteiras. "Registramos na quinta-feira dez vezes mais ligações de pessoas interessadas em se tornar doadores regulares que em qualquer outro dia.
"O Alto Comissionado da ONU para os refugiados (Acnur) também registrou "um enorme aumento" das doações, afirmou à AFP a porta-voz Melissa Fleming, que mencionou "centenas de milhares de dólares". Porém, a Acnur e seus sócios "seguem com poucos fundos e com orçamento abaixo do necessário", assegurou. "Só temos financiamento de 35% para os refugiados que precisam de assistência básica nos países limítrofes da Síria", destacou.