Só após desembarcar em terra firme que Abdallah teve notícia da família. Ele foi até os hospitais para onde os corpos foram levados e lá foi informado da morte dos dois filhos e da esposa. Os corpos serão encaminhados para a cidade síria de Kobane, onde serão enterrados nas próximas 48 horas.
Aylan, o irmão e os pais moravam em Damasco quando o país entrou na crise e na guerra em 2011. Em 2012 deixaram a cidade e foram para Aleppo e, quando os combates começaram, partiram para Kobane. Mas a cidade curda foi alvo do grupo jihadista Estado Islâmico (EI), que tentou, em vão, conquistá-la no outono de 2014, repelidos pela forte resistência.
A família migrou então para a Turquia e, assim que o cerco a Kobane pelo EI terminou em janeiro, retornaram para a cidade, esperando dias mais tranquilos. Mas, em junho, os jihadistas lançaram uma nova ofensiva contra Kobane, onde os combates fizeram mais de 200 mortos.
Tentaram migrar para o Canadá com a ajuda de uma tia que vive no país. Teema Kurdi, que reside em Vancouver há 20 anos, disse que entrou com um pedido de imigração na condição de refugiado para o irmão, a cunhada e as duas crianças. "Tentei servir de avalista, com ajuda de amigos e vizinhos, para as garantias bancárias, mas não conseguimos", explicou Kurdi ao jornal Ottawa Citizen.
O serviço de imigração canadense rejeitou o pedido de refúgio em junho, segundo Kurdi, devido à complexidade dos pedidos de asilo procedentes da Turquia. Consultado a respeito, o secretário de Imigração canadense, Chris Alexander, afirmou que o número de refugiados aumenta rapidamente e que cerca de 2,5 mil refugiados sírios foram acolhidos pelo Canadá este ano.
Depois de ter o pedido de imigração negado, a família tentou fugir pelo mar. Na travessia, a embarcação naufragou e todos, menos Abdallah, morreram afogados. As embarcações tinham saído da cidade turca de Bodrum com destino à ilha grega de Kos, porta de entrada da União Europeia.
A guarda costeira turca foi alertada por gritos de passageiros dos barcos e conseguiram resgatar os corpos de 12 pessoas, entre eles o do pequeno Aylan, que estava de bruços na praia da Turquia. A cena foi fotografada e gerou comoção no Canadá e na Europa, trazendo uma pressão crescente para gerenciar a chegada de milhares de refugiados ao continente.
A fotografia de um agente turco carregando o menino foi divulgada por meios de comunicação e pelas redes sociais com a hashtag #KiyiyaVuranInsanlik (A humanidade é um fracasso, em turco).
No naufrágio morreram cinco menores e sete adultos. Outras 15 pessoas foram resgatadas.