Nações Unidas, Estados Unidos - O Conselho de Segurança da ONU começou nesta segunda-feira sua primeira reunião sobre direitos da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros), na qual homossexuais sírios e iraquianos relataram as atrozes perseguições que sofrem por parte do grupo radical islâmico Estado Islâmico (EI).
"No Estado Islâmico, os gays são perseguidos e assassinados o tempo todo", comentou Subhi Nahas, originário de Idleb, no noroeste da Síria, região devastada pela guerra.
Os homossexuais são lançados do alto de edifícios e apedrejados por multidões que comemoram, inclusive crianças, como se fosse "uma festa", contou o homem que escapou da perseguição e agora trabalha em uma organização de refugiados nos Estados Unidos.
Segundo outro depoimento de um iraquiano, que relatou sua experiência por telefone de um lugar não revelado no Oriente Médio, os militantes do grupo Estado Islâmico "perseguem os gays de maneira profissional. Os caçam um por um".
"Quando capturam alguém, revistam seu telefone, seus contatos e seus amigos do Facebook", completou o homem que se identificou como Adnan e não revelou seu verdadeiro nome, por medo de represálias.
Adnan disse ter sido vítima da brutalidade das forças de segurança iraquianas antes da chegada do grupo EI à sua cidade.
"Estão tentando de localizar todos os homens gays. É como um efeito dominó. Se um cai, os outros também cairão", comentou Adnan, que fugiu do norte do Iraque após ser perseguido.
Uma reunião "histórica"
Os militantes do EI reivindicaram ao menos 30 execuções por "sodomia", informou Jessica Stern, diretora da Comissão Internacional pelo Direitos dos Gays e Lésbicas.
Desde julho de 2014, o grupo jihadista Estado Islâmico divulgou na internet ao menos sete vídeos e fotos que mostram as brutais execuções de pessoas acusadas de "sodomia", afirmou Stern após a reunião celebrada a portas fechadas.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) informou no mês passado que os combatentes do EI jogaram dois homens do alto de um edifício e depois os apedrejaram até a morte.
Diante dos arrepiantes depoimentos, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Samantha Power, destacou como "histórico" um encontro deste tipo no seio da organização.
"Já era hora - 70 anos depois da criação da ONU - de o destino de pessoas LGBT em todo mundo, que temem pela sua segurança, esteja recebendo atenção", completou.
O encontro desta segunda-feira foi organizado pelos Estados Unidos e Chile, e foi aberto a todos os estados membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, mas Angola e Chade não participaram.
China, Malásia, Nigéria e Rússia enviaram representantes, mas não interviram durante a reunião do Conselho de Segurança.
Mais de 75 dos 193 países-membros das Nações Unidas têm leis que criminalizam a homossexualidade.
"Na minha sociedade, ser gay significa a morte e quando o EI assassina homossexuais, a maioria das pessoas fica feliz porque pensam que somos demoníacos, e o EI se beneficia disso", completou Adnan.
Os Estados Unidos lideram uma coalizão internacional que busca derrotar o EI, que declarou um "califado" em junho de 2014, depois de tomar a cidade iraquiana de Mossul.
O grupo jihadista controla grande parte do território iraquiano e sírio, e ganhou apoio também na Líbia, Egito e outras regiões do Oriente Médio.