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Seul exige desculpas de Pyongyang mas negociações prosseguem

Em represália, Seul ligou os alto-falantes instalados ao longo da fronteira e voltou a divulgar propaganda após 11 anos de silêncio

A Coreia do Sul advertiu nesta segunda-feira (24/8) que não vai interromper a guerra de propaganda na fronteira até que a Coreia do Norte peça desculpas, mas os dois rivais prosseguem com as negociações para reduzir a tensão.

A presidente sul-coreana, Park Geun-Hye, fez a advertência no momento em que funcionários de alto nível dos dois países estão reunidos para negociar uma saída à crise na localidade fronteiriça de Panmunjom, onde foi assinado o cessar-fogo da guerra de 1950-1953. A esperança de uma diminuição nas tensões foi frustrada pela acusação de Seul de que Pyongyang de prejudica as discussões com a movimentação de tropas.

[SAIBAMAIS]A Coreia do Norte deve apresentar "desculpas claras" pelo que Seul considera "provocações" e "garantir" que não aconteçam "novas provocações", afirmou a presidente em uma reunião com os conselheiros.

De acordo com o ministério sul-coreano da Defesa, o Norte duplicou as unidades de artilharia na fronteira e mobilizou 50 submarinos - dois terços de sua frota - fora de suas bases militares.

A agência sul-coreana Yonhap afirmou que a Coreia do Norte deslocou uma dezena de embarcações anfíbias de transporte de forças especiais até uma base naval situada a 60 km da "Linha Limite do Norte" (LLN), a linha de demarcação marítima no Mar Amarelo reconhecida pelo Sul.



A Coreia do Norte reconhece outra fronteira marítima, a Linha de Demarcação Militar, que fica mais ao sul. "O Norte tem uma atitude hipócrita enquanto as negociações prosseguem", disse uma fonte sul-coreana. "Levamos a situação muito a sério", completou.

As negociações de Panmunjom contam com a presença do conselheiro sul-coreano de Segurança Nacional, Kim Kwan-Jin, e seu colega norte-coreano, Hwang Pyong-So, um colaborador próximo do dirigente Kim Jong-Un. A reunião começou no sábado, foi retomada no domingo e prosseguia nesta segunda-feira (24/8).

Minas terrestres

A duração das negociações reflete a dificuldade de alcançar um compromisso. Os exércitos dos dois Estados estão em alerta máximo e cada um mobiliza seu armamento ao longo da fronteira, local que na quinta-feira passada foi cenário de uma troca de disparos de artilharia.

Enquanto o Norte desloca os submarinos e a artilharia, aviões militares sul-coreanos e americanos participaram em exercícios de simulação de bombardeios ao longo da fronteira. A explosão de minas terrestres no início do mês, que deixou dois soldados sul-coreanos feridos, provocou o foco mais recente de tensão na península.

Seul acusa Pyongyang pelo incidente, mas a Coreia do Norte nega. Em represália, Seul ligou os alto-falantes instalados ao longo da fronteira e voltou a divulgar propaganda após 11 anos de silêncio. Pyongyang reagiu com um ultimato e exibiu que Seul acabe com a "guerra psicológica", sob risco de sofrer um ataque militar.

Segundo os analistas, o Norte não vai pedir desculpas pelas minas terrestres e rejeitará qualquer compromisso que possa parecer uma concessão. "As duas partes poderiam aceitar uma declaração na qual manifestem uma forma de ;pesar; sem designar explicitamente o Norte como responsável", opina Jeung Young-Tae, analista do Instituto Coreano de Unificação Nacional em Seul.

"Mas não acredito que uma declaração tão vaga funcione desta vez", completou, antes de explicar que o caso dos soldados feridos provoca muita emoção na Coreia do Sul. "Por isto acredito que a única coisa que pode sair deste encontro é um acordo para uma nova reunião de alto nível no futuro, como as negociações ministeriais de Defesa", acrescentou.

O secretário-geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki-moon, pediu aos países que "redobrem" os esforços para chegar a um compromisso. Tecnicamente, os dois países estão em conflito há 65 anos, já que a guerra da Coreia terminou com um simples cessar-fogo, que nunca foi formalizado em um tratado de paz.