Em troca, ela recebeu duas cartas dele - que ela mostrou à Agência France Presse (AFP) - enquanto outras foram bloqueadas por funcionários da prisão responsáveis por analisar sua correspondência.
Pedidos de casamento
Não é fácil definir seu relacionamento com Breivik, um homem que ela nunca conheceu pessoalmente, já que todos os seus pedidos para visitá-lo foram negados. Ela o descreve tanto como seu "antigo amigo" quanto como uma "figura de irmão", protetor, mas admite que o considera atraente e que "havia interesse romântico, no início, ao menos da minha parte".
Afirma que seu primeiro contato ocorreu em 2007 quando eles se encontraram em um jogo on-line. Ele interrompeu o contato com ela dois anos depois, possivelmente para se concentrar no planejamento de seus ataques. Mas no início de 2012 Victoria se reconectou com o homem que na época havia se tornado a pessoa mais odiada na Noruega. E ela não está sozinha.
A revista Morgenbladet informou no ano passado que Breivik recebe ao menos 800 cartas por ano, em sua maioria de admiradoras. Durante seu julgamento, em 2012, foi divulgado que uma menina de 16 anos havia pedido para que eles se casassem.
Hibristofilia é um termo utilizado por criminologistas - mas não por cientistas - para descrever uma atração sexual por assassinos violentos na prisão, que frequentemente recebem cartas de amor picantes ou roupas íntimas sensuais de suas fãs. Também conhecida como "síndrome Bonnie e Clyde", ela tem existido ao longo do tempo e através das fronteiras.
Josef Fritzl da Áustria, que manteve sua filha refém e a estuprou repetidamente por 25 anos, e o assassino americano Charles Manson também têm seus próprios fã-clubes.
Mulheres abusadas
De acordo com Sheila Isenberg, uma autora americana que entrevistou 30 mulheres para seu livro "Women Who Love Men Who Kill" ("Mulheres que amam homens que matam", em tradução livre), estas admiradoras normalmente têm um histórico de abuso sexual. "É a chance que uma mulher tem de estar no controle (o homem está atrás das grades pelo resto da vida e não tem controle sobre nada) quando anteriormente ela foi abusada por seu pai (ou) por outro homem", explicou à AFP. "Além disso, é um romance com R maiúsculo: excitante, emocionante, uma montanha-russa sem fim. Nada monótono ou ordinário sobre estes relacionamentos".
Não há, no entanto, evidências científicas para apoiar a crença generalizada de que estas mulheres sentem que estão em uma missão para ajudar o assassino a encontrar o caminho certo na vida, afirma Amanda Vicary, professora assistente de psicologia da Universidade Wesleyan nos Estados Unidos.
"Algumas mulheres tendem a ser atraídas por homens famosos - é possível que a razão para que algumas mulheres se sintam atraídas por homens que fizeram coisas terríveis não seja tanto o que eles fizeram, mas a fama que eles receberam por seus atos", explicou.
Victoria, no entanto, diz que não busca a fama. Seu envolvimento com Breivik já custou a ela seu relacionamento com sua irmã que, ao saber de sua ligação com ele, disse: "Você morreu para mim". E ela se distanciou dos amigos. Victoria admite compartilhar "mais ou menos" a ideologia islamofóbica de Breivik, mas afirma que é contrária à violência.
Então como ela pode amar um homem que matou a sangue frio dezenas de adolescentes aterrorizados, alguns dos quais pediram para que suas vidas fossem poupadas?
"Acho que tive que separar o Anders do Breivik, realmente. Penso em Anders como meu amigo antigo e em Breivik como a pessoa que fez todas essas coisas". Os anos passam e, ainda assim, ela se recusa a desistir dele. "Eu sinto falta dele mais e mais a cada dia. Acho que meus sentimentos ficaram ainda mais fortes", conclui.