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Mais dinheiro, menos cura: pesquisa médica enfrenta obstáculos nos EUA

Um estudo paralelo mostrou que mais de 28 bilhões de dólares em financiamento público e privado são gastos anualmente em pesquisas que não podem ser reproduzidas

Miami, Estados Unidos - Mais dinheiro tem sido gasto em pesquisas médicas, mas poucos novos medicamentos têm sido aprovados e as pessoas não estão vivendo mais do que viviam nos anos 1960, conclui um estudo americano divulgado nesta segunda-feira.

Entre os vários motivos apontados para o atraso no progresso científico estão o foco excessivo em divulgar os estudos em periódicos de prestígio, bem como burocracia e regulação excessivas, destaca o estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

"Nós estamos gastando mais dinheiro agora para alcançar os mesmos resultados que sempre alcançamos e isso continuará acontecendo se nós não consertarmos as coisas", afirmou o coautor Arturo Casadevall, professor de microbiologia molecular e imunologia da Escola Bloomberg de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins.

O estudo se baseou em análises de financiamento do Instituto Nacional de Saúde, assim como no número de estudos científicos que estão sendo publicados, na expectativa de vida e no número de aprovação de novos medicamentos - ou Novas Entidades Moleculares (NMEs, na sigla em inglês) - aprovado pela Food and Drugs Administration (FDA, responsável pela regulamentação de alimentos e medicamentos nos Estados Unidos).

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O estudo revelou que o número de cientistas nos Estados Unidos aumentou mais de nove vezes desde 1965 e que o orçamento do Instituto Nacional de Saúde aumentou quatro vezes para cerca de 30 bilhões de dólares este ano.

Enquanto isso, o número de novos medicamentos aprovados pela FDA dobrou, enquanto a expectativa de vida ficou relativamente constante, ganhando cerca de dois meses por ano na última metade do século.

"Há algo de errado no processo, mas não existem respostas fáceis", afirmou o coautor do estudo, Anthony Bowen, professor convidado da Escola Hopkins de Saúde.

Burocracia


Os pesquisadores atualmente precisam passar por longos processos de permissão para retirar amostras de sangue e precisam catalogar cada amostra para a supervisão do governo, afirmou.

Tais tarefas "adicionam encargos não científicos aos cientistas, que poderiam dedicar mais tempo nos laboratórios", apontou o estudo.

Outros argumentam que os desafios da medicina moderna são mais complexos do que nunca e que encontrar a cura para o Alzheimer e o câncer exige mais tempo e esforço.

Casadevall afirma que muitas das melhores drogas usadas atualmente foram desenvolvidas há décadas, incluindo a insulina para a diabetes e bloqueadores beta para doenças cardíacas.

Mas, de acordo com os pesquisadores, alguns dos problemas também aparecem na cultura atual do estudo científico.

Casadevall e Bowen afirmam que existem incentivos "perversos" para pesquisadores pularem etapas ou simplificarem demais seus estudos para que possam ser publicados em respeitadas revistas científicas.

Um estudo paralelo mostrou que mais de 28 bilhões de dólares em financiamento público e privado são gastos anualmente em pesquisas que não podem ser reproduzidas e que compõem cerca de metade do conteúdo contemporâneo das revistas científicas.