Washington, Estados Unidos - O presidente americano, Barack Obama, advertiu nesta quarta-feira (5/8) que uma negativa do Congresso ao acordo nuclear com o Irã significaria uma guerra no Oriente Médio e exortou os legisladores a aprová-lo em nome da tradição diplomática americana.
"Um repúdio ao acordo no Congresso deixaria uma única opção a toda a administração americana realmente decidida a impedir que o Irã desenvolva uma arma nuclear: outra guerra no Oriente Médio. Não o digo por ser provocador. É um fato", disse Obama em discurso, em Washington, no qual defendeu o acordo alcançado entre Teerã e as grandes potências, em 14 de julho.
O Congresso americano votará antes de 17 de setembro uma resolução de desaprovação do acordo nuclear. Se a iniciativa for aprovada, Obama a vetaria, e para superar este veto, os legisladores teriam que dispor de dois terços dos votos nas duas câmaras do Congresso, um número que os republicanos dificilmente alcançariam, pois a maioria dos democratas a princípio se manteria fiel ao presidente.
Mas para garantir que pelo menos um terço dos membros do Congresso estarão do seu lado, Obama defendeu o caráter histórico e pacífico do acordo. Para fortalecer seu discurso, o presidente falou do mesmo local onde seu antecessor, John F. Kennedy, proferiu, em 1963, em plena Guerra Fria, um discurso militante a favor do fim dos testes nucleares.
"Muitas das pessoas que foram a favor da guerra no Iraque agora estão se colocando contra o acordo nuclear com o Irã", disse o presidente, exigindo dos legisladores optar, ao contrário, pela tradição americana de uma diplomacia forte.
"Perderemos algo mais precioso. A credibilidade dos Estados Unidos como líder da diplomacia. A credibilidade dos Estados Unidos como âncora do sistema internacional", acrescentou.
Obama critica Israel
O debate sobre o acordo alcançado em Viena entre o Irã e o grupo 5%2b1 (Estados Unidos, Rússia, França, China, Reino Unido e Alemanha) esfriou consideravelmente as relações entre os Estados Unidos e Israel.
O governo do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, condena o acordo, pois considera que não submete o Irã a condições estritas que impeçam que o país desenvolva uma arma nuclear, a qual poderia, eventualmente, usar contra Israel.
Em seu discurso, Obama disse que Israel foi o único país que se expressou publicamente contra o acordo e assegurou que, caso Teerã não respeite o acordado, será sancionado.
"Todas as nações do mundo que se expressaram publicamente, exceto o governo israelense, manifestaram seu apoio" ao acordo, disse Obama. O discurso foi traduzido ao hebraico e retransmitido pela rádio pública israelense. Se o Irã fizer trapaça com o tema nuclear, "poderemos pegá-los e o faremos", acrescentou o presidente.
O acordo estabelece que Teerã nunca vai desenvolver a bomba atômica, em troca de uma suspensão progressiva das sanções internacionais que sufocam sua economia.
Finalmente, Obama admitiu que o Irã poderá usar recursos provenientes da flexibilização das sanções para financiar "organizações terroristas", mas argumentou que isto é preferível a que desenvolva armas nucleares.
"Qualquer benefício que o Irã possa obter com a flexibilização das sanções empalidece em comparação com o perigo que pode representar com uma arma nuclear", afirmou.
Mas, para o presidente americano, a maior parte do dinheiro será usado pelas autoridades iranianas para melhorar a situação da população, que sofreu muitos anos com a asfixia econômica causada pelas sanções internacionais.
Até "um regime tão agressivo como o Irã não pode ignorar as esperanças" suscitadas entre a população, concluiu.