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Durante crise, chefe da seção política dos talibãs afegãos pede demissão

Os rebeldes anunciaram na sexta-feira (31/7) a nomeação para a liderança do movimento do mulá Akkhtar Mansur

Cabul, Afeganistão - O chefe da seção política dos talibãs afegãos pediu demissão nesta semana, em um novo sinal das diferenças crescentes dentro da rebelião islamita depois da sucessão de seu líder histórico, mulá Omar. Os rebeldes anunciaram na sexta-feira (31/7) a nomeação para a liderança do movimento do mulá Akkhtar Mansur, ex-braço direito de Omar, que levou os talibãs ao poder em 1996 antes de recuar com a invasão ocidental em 2001.

[SAIBAMAIS]No entanto, até a família de mulá Omar se negou a jurar lealdade a seu sucessor e pediu aos teólogos muçulmanos que resolvam as crescentes divergências entre os insurgentes sobre a transição no poder. Não existe consenso sobre a legitimidade do sucessor designado como novo "comandante dos fiéis".

Alguns dirigentes talibãs, incluindo o filho do mulá Omar, Yakub, e seu irmão, Abdul Manan, questionaram a decisão, considerada parcial e precipitada. "Nossa família não jurou lealdade a ninguém em meio a estas divergências", declarou o mulá Manan em uma gravação divulgada no domingo. "Preferimos que os ulemás (teólogos muçulmanos) resolvam as divergências antes de jurar lealdade a qualquer lado", afirmou.

Mansur pediu no sábado a unidade dos talibãs. Na noite de segunda-feira (3/8), o chefe da seção política dos talibãs, estabelecida em 2013 no Catar para facilitar o diálogo de paz com o governo afegão, Tayeb Agha se demitiu do cargo, segundo um comunicado considerado autêntico nesta terça-feira por fontes talibãs. "Para viver com minha consciência e respeitar os princípios do mulá Omar, decidi encerrar meu trabalho de chefe da seção política", explica Agha no comunicado.



"Já não estarei envolvido nas declarações dos talibãs, não vou apoiar qualquer clã na disputa atual dentro dos talibãs", acrescentou. Os oficiais e comandantes talibãs criticam a direção do movimento por ter mantido durante dois anos a ideia de que o mulá Omar continuava vivo.

"A morte do mulá Omar foi escondida por dois anos. Considero isso um erro histórico", afirma Tayeb Agha, lamentando que não se tenha consultado os dirigentes militares no Afeganistão para a eleição do mulá Mansur e de seus adjuntos, o mulá Haibatullah Ajundzada e o poderoso Sirajudin Haqani, todos considerados ligados às autoridades paquistanesas.

Sob supervisão dos Estados Unidos e da China, o Paquistão recebe desde o início de julho conversações entre os talibãs e o governo de Cabul.