Nusaybin, Turquia - No ano passado, eles acreditaram ter ganhado a admiração da comunidade internacional por sua luta contra os jihadistas na Síria. Hoje, os curdos de Nusaybin, cidade turca muito próxima da fronteira com a Síria, se sentem abandonados pelos países ocidentais, em nome da mesma luta anti-jihadista e se preparam para o pior.
"O que aconteceu em um ano para o mundo inteiro nos esquecer?", questiona Vedat, um servente de 45 anos, em visita a parentes para ter notícias da família. Ele está convencido de que, em sua luta contra o grupo Estado Islâmico (EI), os líderes ocidentais estão dispostos a "sacrificar" os curdos.
"Será que somos subumanos a esse ponto?", protestou Ismet Alp, de 70 anos, o prefeito de um distrito da cidade. As ruas empoeiradas, de calçadas destruídas, estão desertas de habitantes, exauridos pelo calor e preocupados com o futuro. Ismet Alp se lembra perfeitamente dos "sequestros, torturas e detenções arbitrárias" cotidianos na década de 1990, no auge da luta armada entre o governo central de Ancara e os guerrilheiros curdos.
A permissão implícita dada pelo Ocidente ao presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, para atacar militantes curdos faz temer um retorno a esse período sombrio, da indiferença geral. "A vida dos curdos não vale nada nem para os turcos, nem para o Ocidente", lamentou.
Desde o início da ofensiva turca, os moradores de Nusaybin vivem ao ritmo das operações militares e veem o horizonte escurecer.
Jovens revoltados
Instalados dentro da vista da grande cidade síria de Qamishli, da qual é possível distinguir os edifícios, os habitantes lutam para fechar os olhos à noite.
Costumam ser acordados pelos "confrontos entre jovens curdos e as forças de segurança nas ruas", segundo Idris Sarikaya, de 32 anos. Ele garante que os jovens estão revoltados e não hesitam em atacar a polícia com armas, bombas ou rifles, para expressar sua raiva contra a polícia considerada hostil. "Cinco de nossos adolescentes morreram nos últimos dias em confrontos com a polícia", declarou Ismet Alp, entre lágrimas, sem que este balanço possa ser verificado. "Se necessário, vamos ser obrigados a organizar a nossa própria segurança" e "será necessariamente pelas armas", afirmou seu filho, de 26 anos, Mehmet.
Idris Sarikaya, um jovem pai de família, explica que a ameaça está em toda parte: "A 25 km os combatentes do EI são numerosos e do nosso, na Turquia, é o exército turco que nos cerca", afirma este pedreiro, que já não quer confiar em ninguém. Sua prioridade é evitar um ataque jihadista em Nusaybin, como o de 20 de julho, que matou 32 jovens curdos na cidade turca de Suruç. "Quando a força policial é insuficiente, precisamos de nossos jovens, em cada rua, cada bairro, controlando as pessoas e veículos", explica. "Mas cada vez que montamos bloqueios nas estradas, a polícia chega para desmantelá-lo", lamenta.
Fatigado por anos de esperanças de paz fracassadas, Ismet Alp está cansado e já não acredita no futuro. "Para nós, curdos, a morte é talvez até melhor do que a vida como nós temos vivido aqui."