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Obama critica o tom dos republicanos nos debates presidenciais

"Esse tipo de retórica talvez atraia a atenção, mas não é o tipo de liderança de que a América necessita", afirmou

Adis Abeba, Etiópia - Barack Obama criticou nesta segunda-feira (27/7) o partido republicano, que, segundo ele, tolera as declarações ultrajantes de seus candidatos ao presidente dos Estados Unidos e impede que o debate sobre a questão nuclear iraniana se desenrolesse pacificamente, faltando 15 meses para as eleições presidenciais.

A mais de 11 mil km de Washington, em viagem à Etiópia, o presidente americano aproveitou a deixa de um jornalista que pediu para que reagisse, ao final de uma coletiva de imprensa, a respeito das palavras do pré-candidato republicano Mike Huckabee, que afirmou que o acordo com o Irã conduziria os israelenses às "portas dos fornos crematórios".

"Os comentários particulares de Huckabee são parte de uma tendência geral que seria considerada ridícula se não fosse tão triste", declarou Obama, que raramente menciona pelo nome os opositores políticos, ainda mais quando está no exterior.

Ele observou que John Kerry foi chamado de Pôncio Pilatos por um senador (o republicano Tom Cotton), e que outro candidato às primárias republicanas (Ted Cruz) afirmou que a administração Obama se tornaria o primeiro financiador do terrorismo anti-americano no mundo por desbloquear fundos iranianos congelados.

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"São os líderes do partido republicano", lamentou Obama. "Esse tipo de retórica talvez atraia a atenção, e talvez seja utilizada apenas para tomar o lugar de Trump nas manchetes, mas não é o tipo de liderança de que a América necessita".

Obama também denunciou os dois pesos e duas medidas do partido republicano, ilustrado, segundo ele, pelas reações a Donald Trump, o empresário que tem monopolizado a campanha das primárias desde sua candidatura em junho, até chegar à frente nas pesquisas.

"Quando ele contesta o heroísmo de McCain, um homem que sofreu tortura e que agiu com patriotismo exemplar, o partido republicano se diz chocado", disse Barack Obama. "Mas este é o resultado de uma cultura em que este tipo de ataque ultrajante tornou-se comum e é transmitido continuamente na internet, rádio e noticiários. E quando esses ataques se dirigem contra mim, muitos se calam, apesar de se dizerem indignados quando McCain foi atacado".

A eleição presidencial americana acontecerá em novembro de 2016, mas a campanha das primárias já começou com nada menos que 16 candidatos para a indicação republicana.

Apenas um deles, Donald Trump, conseguiu se destacar entre todos os outros. Não por suas propostas, mas por suas declarações explosivas, sobre os imigrantes ilegais mexicanos, seus muitos rivais (idiotas ou "perdedores") e John McCain, um ex-prisioneiro de guerra no Vietnã.

Coincidindo com a campanha presidencial, o debate sobre o Irã se tornou ultra-partidário, enquanto o Congresso tem até setembro para avaliar o acordo assinado em 14 de julho, em Viena.

O Congresso tem o poder de impedir Barack Obama de levantar as sanções econômicas contra o Irã, promessa feita aos iranianos em troca das concessões nucleares.

Os representantes eleitos devem votar em setembro, enquanto a maioria republicana é abertamente oposta, incluindo os quatro senadores que também são candidatos à Casa Branca.

O secretário de Estado John Kerry foi acusado na quinta-feira em uma audiência no Senado de ter sido enganado pelos iranianos.

Entre todos os candidatos primários, muitos prometeram publicamente anular o acordo com o Irã em seu primeiro dia na Casa Branca, em janeiro de 2017.

"Os americanos merecem uma coisa melhor", enfatizou Barack Obama. "Em 18 meses entregarei as chaves. Quero ter a certeza que entregarei as chaves a alguém sério, que enfrente os sérios desafios aos quais o país e o mundo são confrontados".