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Procuradoria francesa quer arquivar caso sobre morte de Arafat

Em 2012, três juízes se encarregaram da investigação lançada depois que sua viúva, Suha Arafat, apresentou uma denúncia sobre a suspeita de que poderia ter sido envenenado

Nanterre, França - A Procuradoria de Nanterre (noroeste de Paris) pediu nesta terça-feira (21/7) o arquivamento da investigação pela morte do líder palestino Yasser Arafat, aberta em 2012 por suspeita de "assassinato" - informou o gabinete do procurador à AFP nesta terça-feira.

De acordo com a fonte da AFP, o órgão "apresentou um pedido definitivo para o arquivamento do caso", no qual ninguém foi processado.

Enquanto a causa da morte de Arafat, em 2004, continua sem explicação, os juízes franceses encarregados de uma investigação por "assassinato" poderão em breve prosseguir com o arquivamento, depois da audiência desta terça.

O então presidente da Autoridade Palestina morreu em 11 de novembro de 2004, aos 75 anos, no hospital militar Percy, em Clamart, perto de Paris, depois de um rápido agravamento de seu estado de saúde em Ramallah.

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Em 2012, três juízes de Nanterre se encarregaram da investigação lançada depois que sua viúva, Suha Arafat, apresentou uma denúncia sobre a suspeita de que poderia ter sido envenenado.

Nesse mesmo ano, o túmulo de Arafat foi aberto em Ramallah e três equipes de investigadores franceses, suíços e russos coletaram amostras dos restos mortais do líder palestino para examiná-los.

Um centro da cidade suíça de Lausanne encontrou nas amostras de Arafat "níveis anormais de polônio", potente elemento radioativo. Essa mesma substância, bastante tóxica, foi usada para assassinar o ex-agente russo Alexandre Litvinenko, em Londres, em 2006.

Os especialistas franceses descobriram, porém, que a concentração de polônio e chumbo encontrados no túmulo de Arafat tinha origem "ambiental", explicou em abril a procuradora de Nanterre, Catherine Denis, após receber as conclusões dos três juízes que investigavam o caso.

Os advogados da viúva do líder palestino acusaram os juízes de concluir a investigação rápido demais e pediram que outros especialistas fossem ouvidos.

Os especialistas encarregados pelos juízes franceses descartaram, duas vezes, a tese do envenenamento. Nos exames complementares, os franceses voltaram a analisar dados obtidos na análise de 2004 pelo serviço de proteção radiológica do Exército, a partir de amostras de urina de Arafat durante sua internação.

"Não se encontrou polônio 210, o que enfraqueceu a hipótese de uma ingestão aguda nos dias anteriores ao aparecimento dos sintomas apresentados por Yasser Arafat", concluiu a Procuradoria em março.

Os especialistas suíços consultados pela viúva disseram, por sua vez, que a tese do envenenamento era "mais coerente" com seus resultados.

"Há muito tempo que não confiamos nem nos juízes de instrução, nem na Procuradoria de Nanterre", afirmaram os advogados da viúva de Arafat, Francis Szpiner e Renaud Semerdjian, questionando sua "imparcialidade" e denunciando a "crônica de um arquivamento anunciado".

"Apelaremos desse arquivamento que se anuncia", advertiram.

"Ninguém está ainda em condições de afirmar de que Yasser Arafat morreu. Os médicos dizem que não resistiu a uma hemorragia cerebral causada por uma infecção digestiva de origem viral, ou bacteriana. O que não exclui um envenenamento por outra coisa diferente do polônio", insistiram os advogados.