Kiev, Ucrânia - Os deputados ucranianos deram nesta quinta-feira (16/7) o primeiro passo em direção a uma reforma constitucional que prevê mais autonomia para as regiões separatistas pró-russas do leste do país, um projeto criticado na Ucrânia, mas promovido pelos ocidentais.
O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, reconheceu no hemiciclo que se tratava de uma decisão difícil, mas os aliados ocidentais - que veem nisso uma forma de acalmar o sangrento conflito armado - desejam que a reforma seja realizada com sucesso. "Não podemos criar nós mesmos uma situação na qual a Ucrânia se encontre sozinha diante de seu agressor" russo, disse Poroshenko.
[SAIBAMAIS]Os deputados aprovaram o envio ao Tribunal Constitucional do projeto presidencial de emendas, procedimento legislativo necessário antes da votação do texto, em duas leituras. Em visita a Kiev, a subsecretária de Estado americana Victoria Nuland declarou na quarta-feira à imprensa que a descentralização e o status especial das regiões rebeldes de Donetsk e Lugansk estava prevista nos acordos de paz assinados em fevereiro em Minsk.
O Ocidente considera esta reforma como o principal passo em direção a uma solução política do conflito, que deixou mais de 6.500 mortos em 15 meses, e pressiona as autoridades pró-ocidentais de Kiev para que alcancem um acordo com os rebeldes.
Muitos na Ucrânia encaram, no entanto, na reforma uma tentativa de congelar o conflito, argumentando que Kiev não tem motivos para aceitar de fato a autonomia das regiões, onde ainda há soldados russos. "Os acordos de Minsk têm sua lógica: primeiro parar as hostilidades (...) e depois as emendas constitucionais", disse o deputado pró-governamental Leonid Emets.
De acordo com a vice-presidente do Parlamento, Oksana Syroid, os deputados sofrem "uma pressão desmesurada (...) por parte da comunidade internacional". "O mundo (...) está cansado e quer se livrar deste problema", prosseguiu a deputada. Como muitas outras figuras públicas na Ucrânia, Syroid considerou que esta iniciativa pode legitimar os rebeldes e "acabar com as perspectivas europeias da Ucrânia".
Dois funcionários de alto escalão do executivo ucraniano declararam à AFP, por sua vez, que Kiev, sob injeção financeira do Ocidente, não pode ignorar os pedidos de seus sócios ocidentais. O projeto de reforma concede mais poderes aos conselhos regionais e locais, mas - diferentemente das expectativas dos rebeldes - não confirma o status de semiautonomia dos territórios sob seu controle, que deve ser determinado por uma lei separada e por uma duração de apenas três anos.