Teerã, Irã - A suspensão das sanções impostas ao Irã, previsto no acordo alcançado com as grandes potências, permitirá reativar a economia iraniana em crise, mas esta recuperação deve demorar meses para ser sentida.
O acordo sobre o programa nuclear iraniano, concluído nesta terça-feira em Viena, inclui a suspensão das sanções econômicas impostas em 2006 pela Organização das Nações Unidas ao Irã, suspeito de querer fabricar a bomba atômica.
As sanções das ONU se somaram às impostas em 2012 pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
"O país agora precisa de um desenvolvimento tecnológico e industrial, e, para isso, gastará bilhões de dólares, a menos que os investidores retornem", afirma Daniel Bernbeck, funcionário da Câmara de Comércio Alemanha-Irã em Teerã.
"Esses investidores aumentarão a produtividade, o que reduzirá o preço e a taxa de inflação", explica.
No entanto, para David Ramin Jalilvand, do European Policy Center (EPC), com sede em Bruxelas, o acordo de Viena não soluciona todos os problemas.
"Terá que esperar pelo menos até o começo de 2016 para que as sanções vinculadas à energia sejam suspensas, depois que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) verificar que o Irã respeita seus compromissos.
Além disso, os estrangeiros também podem demonstrar resistência em investir, pelo risco do retorno automático das sanções, em caso de violação do acordo.
O tempo é, contudo, um fator de pressão. A suspensão parcial das sanções após o acordo provisório de novembro de 2013 e as medidas técnicas do governo do presidente iraniano, o moderado Hassan Rohani, permitiram ao Irã registrar um crescimento de 3% em 2014, encerrando dois anos de recessão. A inflação caiu de 40% a 15% e a moeda iraniana se estabilizou, depois de perder dois terços de seu valor.
No entanto, essas medidas podem, em pouco tempo, chegar ao seu limite, e o presidente poderia perder, então, os resultados obtidos com a sua política econômica.
A maioria dos investidores esperam que o Irã volte à rede internacional de transações bancárias SWIFT, cuja ausência impede a maioria de empresas presentes no Irã transferir diretamente seus recursos da República Islâmica.
Contratos petroleiros atraentes
O próprio Rohani admitiu em junho que "várias semanas e vários meses passarão" entre a assinatura do acordo e sua aplicação", especialmente no que se refere às sanções.
O petróleo, setor vital para a economia iraniana, precisa urgentemente de investimentos.
O Irã, quarto país do mundo em reservas de petróleo, viu sua produção cair a menos de 3 milhões de barris diários (mbd) desde 2012. Suas exportações caíram à metade, a atuais 1,3 mbd contra 2,5 mbd em 2011.
O país pode produzir 1 mbd adicionais nos seis meses posteriores à suspensão das sanções, segundo o ministro do Petróleo, Bijan Namdar Zanganeh.
Para atrair os investidores, Teerã busca modificar a natureza de seus contratos, tornando-os mais atraentes. Os termos desses novos contratos são vagos e sua apresentação ao público foi adiada em várias ocasiões.
O acordo provisório de 2013 deu um alívio aos setores automobilístico e aeronáutico, além de ter liberado centenas de milhões de dólares de haveres iranianos congelados nos bancos do mundo todo.
Desde então, as delegações de grupos estrangeiros, entre eles os grupos Shell e ENI, têm ajudado Teerã a retomar o contato com seus sócios iranianos.
Para Mohamed Gholi Yusefi, professor de Economia na universidade Alameh Tabatabaie em Teerã, só os investimentos estrangeiros não bastarão, já que o Irã precisa de reformas econômicas fundamentais para eliminar a corrupção, a burocracia e aquecer a produção industrial.