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Após 12 anos de crise, governo do Irã e potências anunciam acordo nuclear

Esta é a primeira vez que um acordo de tão alto nível é concluído entre a República Islâmica e os Estados Unidos desde a ruptura das relações diplomáticas em 1980

Viena, Áustria - O Irã e as grandes potências concluíram nesta terça-feira (14/7) um acordo histórico que praticamente impossibilita Teerã de construir uma bomba atômica por vários anos, em troca da retirada das sanções internacionais que asfixiavam a economia do país. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, celebrou o acordo, que segundo ele permite seguir em uma nova direção.



A televisão pública iraniana transmitiu ao vivo o discurso de Obama. Esta é a segunda vez em 36 anos que a televisão pública transmite ao vivo o discurso de um presidente dos Estados Unidos. Pouco depois de Obama, o presidente iraniano afirmou, em um discurso à nação, que o acordo é "um ponto de partida" para restabelecer a confiança. "Se este acordo for aplicado corretamente (...) podemos pouco a pouco eliminar a desconfiança", declarou Rohani. Também disse que o Irã "nunca tentará obter uma arma nuclear, com ou sem a implementação" do acordo concluído com as grandes potências em Viena.

Rohani afirmou que este tipo de armas "são contra nossa religião" e contradizem um decreto do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, contra a bomba atômica.

Bomba atômica
O acordo foi obtido após negociações intensas, iniciadas em setembro de 2013. A última etapa das conversações durou 18 dias, um prazo sem precedentes desde os acordos de Dayton que acabaram com guerra da Bósnia-Herzegovina em 1995. As discussões entre o Irã e o grupo 5%2b1 (os países membros do Conselho de Segurança da ONU - Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido - e a Alemanha) deveriam ter acabado em 30 de junho, mas a data limite foi prorrogada em várias ocasiões em função das divergências em "questões difíceis", que terminaram solucionadas.

O pacto final tem como base os grandes princípios estabelecidos em Lausanne em abril: Teerã se compromete a reduzir a capacidade nuclear (redução de dois terços do número de centrífugas de urânio em 10 anos, de 19.000 a 6.104, diminuição das reservas de urânio enriquecido) durante vários anos e a permitir que os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) realizem inspeções profundas em suas instalações.

O objetivo é tornar quase impossível que o Irã consiga fabricar a bomba atômica, permitindo ao mesmo tempo a Teerã, que sempre negou o objetivo militar, o direito de desenvolver uma indústria nuclear civil. O texto, que autoriza Teerã a prosseguir com o programa nuclear civil, permitirá normalizar as relações do Irã com o mundo.

[SAIBAMAIS]Após a redução das instalações iranianas segundo os termos do acordo, Teerã precisará de um ano para voltar a ter a capacidade de fabricar a bomba atômica, contra os três meses atuais, explicou o secretário de Estado americano John Kerry. Em troca, as sanções internacionais adotadas desde 2006 pelos Estados Unidos, a União Europeia e a ONU, que sufocam a economia do país, serão retiradas de maneira progressiva a partir de 2016 caso a República Islâmica cumpra os compromissos. Em caso de violação do acordo, poderão ser restabelecidas, uma situação que vai durar 15 anos. O embargo de armas continuará pelos próximos cinco anos.

Aplicação do acordo
Os investidores se dizem dispostos a retornar ao país de 77 milhões de habitantes, que tem a quarta maior reserva de petróleo no mundo e a segunda em gás. O Irã, que integra a Opep, poderá voltar a exportar petróleo. A aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU de uma resolução para validar o acordo acontecerá nos próximos dias, segundo Paris.

Os iranianos, que deram a vitória na eleição presidencial de 2013 a Hassan Rohani sob a promessa de acabar com as sanções, esperavam o acordo com impaciência, apesar da hostilidade manifestada dos partidários da linha dura, tanto no Irã como nos Estados Unidos. Em Washington, o acordo deve ser submetido ao Congresso, de maioria republicana e muito cético a respeito das intenções de Teerã. Mas Obama já fez sua advertência contra uma rejeição "irresponsável".

Após as dificuldades da aprovação, será a vez da aplicação, um processo muito complicado, segundo o professor Siavush Randjbar-Daemi da Universidade de Manchester. "Neste momento as coisas podem complicar", disse. Mas o diretor geral da AIEA, Yukiya Amano, se mostrou otimista e expressou sua "confiança" na capacidade da agência de supervisionar a aplicação dos termos do acordo.