Jornal Correio Braziliense

Mundo

Negociações para acordo com Irã estão na reta final, garantem autoridades

"Fase decisiva" ou "fase final" foram algumas das frases pronunciadas pelos principais atores das negociações neste domingo

Viena, Áustria - A hora das decisões se aproxima neste domingo (12/7), em Viena, com as negociações sobre o programa nuclear iraniano entre Teerã e as grandes potências em sua reta final, apesar de restarem alguns pontos relevantes a serem resolvidos. "Fase decisiva" ou "fase final" foram algumas das frases pronunciadas pelos principais atores das negociações neste domingo.

"Percorremos um longo caminho. Precisamos alcançar o topo e estamos muito próximos", declarou o presidente do Irã, Hassan Rohani, em uma cerimônia de ruptura do jejum do Ramadã em Teerã. "Estamos tão próximos que temos a impressão de que já chegamos lá, mas quando chegamos lá, sabemos que ainda há alguns passos a serem dados", explicou.

"Espero que estejamos entrando na fase final desta maratona de negociações. Acredito nisso", afirmou por sua vez o chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, depois de voltar a Viena. Federica Mogherini, chefe da diplomacia europeia, também afirmou no Twitter que as negociações entraram em sua fase decisiva.

Apesar do otimismo reinante na capital austríaca, as autoridades iranianas e americanas se apressaram em descartar a ideia de que um acordo final fosse iminente. "Nunca especulamos sobre o tempo de nada durante estas negociações e não vamos começar a fazer isso agora - especialmente, já que precisam ser resolvidos assuntos importantes nestas discussões", afirmou um funcionário do departamento de Estado americano.

[SAIBAMAIS]
O diplomata iraniano Alireza Miryusefi disse no Twitter, citando um funcionário de alto escalão de Teerã, que conquistar um pacto neste domingo era "logisticamente impossível", já que o texto que era trabalhado alcançava uma centena de páginas.

"Acredito que estamos chegando ao ponto de tomar algumas decisões reais. Razão pela qual eu diria, falta pouco, estou esperançoso", declarou aos jornalistas em Viena o secretário de Estado americano, John Kerry, depois de se reunir com seu colega iraniano, Mohamad Javad Zarif.

Kerry também se mostrou cauteloso, especificando que "ainda há um pequeno número de assuntos difíceis a serem solucionados". Como um indício de que o fim se aproxima, o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, ausente há vários dias, viajou neste domingo de Moscou para estar presente nesta fase das negociações.

No sábado (11/7), uma fonte disse à AFP que "98% do texto está pronto, é preciso preencher algumas pequenas citações e, sobretudo, duas ou três questões importantes".

Há quinze dias, o grupo 5%2b1 (Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha) tenta fechar com o Irã um acordo que garanta o caráter civil do programa nuclear de Teerã, em troca de um alívio das duras sanções internacionais que o país sofre.

As discussões tinham como data limite o dia 30 de junho, mas foram prorrogadas, com um novo prazo até segunda-feira. Sobre a República Islâmica recaem suspeitas de que desenvolveu até 2003, e talvez até mais tarde, um programa nuclear militar fazendo-o passar por civil, algo que o Irã sempre negou.

Desde 2006, Estados Unidos, UE e ONU adotaram vários pacotes de sanções contra Teerã, que asfixiam a economia deste país com 77 milhões de habitantes.

Ditados do Irã


Em 2013, as duas partes iniciaram negociações sérias para encontrar uma solução e, em abril de 2015, entraram em acordo em Lausanne (Suíça) sobre as linhas gerais de um texto, que incluía a diminuição do número de centrífugas e das reservas de urânio enriquecido de Teerã.

Entre os pontos de divergência se encontra o levantamento das restrições sobre as armas, que Teerã, apoiado por Moscou, exige que seja imediato. Os ocidentais consideram delicada esta demanda pelo envolvimento iraniano em vários conflitos, sobretudo em Síria, Iraque ou Iêmen.

Outro ponto de divergência: o ritmo da suspensão das sanções. Os iranianos querem um compromisso imediato de seus interlocutores, mas eles contemplam um levantamento gradual e a possibilidade de recuar em caso de violação do acordo.

O grupo 5%2b1 também exige que os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) recebam acesso caso necessário, ponto rejeitado por Teerã. Finalmente os dois grupos negociadores diferem sobre a duração das cláusulas impostas ao Irã.