Após a comoção provocada pelos atentados de janeiro em Paris, seguidos por uma série de atos islamofóbicos em todo o país, as autoridades francesas se preocupam com as consequências deste novo ataque. O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, encurtou uma visita à América do Sul para participar na manhã deste sábado (27/6) de um conselho de ministros restrito com o presidente francês, François Hollande.
No atentado contra a fábrica de gás industrial foram encontradas bandeiras islamitas perto da cabeça decapitada da vítima, que era o responsável por uma empresa de transportes na qual o principal suspeito do crime trabalhava. Este ataque "criou uma tensão forte na sociedade francesa, que será explorada", disse o primeiro-ministro Valls à AFP no avião que o levava de Bogotá.
"Este ato macabro de decapitação, com preparo, com bandeiras, é algo novo na França", afirmou Valls, que acredita que o ataque tem por objetivo intimidar. "É muito difícil para uma sociedade viver sob a ameaça de atentados durante vários anos", acrescentou o primeiro-ministro, advertindo que "a questão não é saber se vai ocorrer um novo atentado, mas quando".
[SAIBAMAIS]
É a primeira vez na França em que, em um ataque que suspeita-se que esteja relacionado ao jihadismo, a vítima aparece decapitada, um método utilizado com frequência pelo grupo Estado Islâmico (EI) em suas ações em Síria e Iraque, onde o grupo proclamou um califado.
A principal instância representativa do Islã da França, o Conselho Francês do Culto Muçulmano, condenou o ataque e convocou o "conjunto da comunidade nacional à vigilância, unidade e solidariedade". O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, líder da oposição de direita a Hollande, e a chefe da extrema direita Marine Le Pen pediram medidas rápidas para "acabar com o islamismo".
Vínculos salafistas
O suposto autor do ataque, Yassin Salhi, de 35 anos, casado e pai de três crianças, que invadiu a empresa com a intenção de provocar uma explosão, seguia detido neste sábado (27/6). Sua esposa e sua irmã também foram detidas. A polícia realizou varreduras em sua casa, assim como na empresa de transportes na qual ele trabalhava.
Salhi - nascido na França de pai de origem argelina e mãe de origem marroquina - foi investigado em 2006 e vigiado pelos serviços de inteligência franceses por seu vínculo com o movimento salafista, um braço do sunismo radical, mas o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, disse que não tinha antecedentes criminais.
Um dos funcionários da fábrica o descreveu em declarações à rádio RTL como "um lobo em pele de cordeiro", e acrescentou que o suspeito havia falado com ele do grupo EI, embora não para tentar recrutá-lo, "mas simplesmente para perguntar sua opinião".
No entanto, muitas perguntas estão sem respostas sobre o motivo do suspeito, as circunstâncias do assassinato da vítima e as eventuais cumplicidades, segundo a procuradoria francesa. A ação contra a fábrica francesa ocorreu quase seis meses após três jihadistas atacarem a sede da revista satírica Charlie Hebdo, um supermercado kasher e policiais, deixando 17 mortos em Paris em janeiro.
Este ataque ocorrido na sexta-feira também coincidiu com uma onda de atentados registrados no mesmo dia na Tunísia, onde 38 turistas morreram em um sangrento atentado reivindicado pelo EI, e no Kuwait, onde ao menos 26 pessoas faleceram em outro ataque também reivindicado pelo EI.
Todas estas ações foram registradas três dias antes do primeiro aniversário do califado proclamado pelo EI nos territórios que conquistou na Síria e no Iraque.