Port el Kantaoui, Tunísia - Centenas de turistas estrangeiros se aglomeravam na madrugada deste sábado (27/6) no aeroporto de Enfidha para abandonar a Tunísia, após o atentado contra um hotel da região que deixou 38 mortos, reivindicado pelo grupo Estado Islâmico. Diversos voos saindo do aeroporto tinham como destino Londres, Manchester, Amsterdã, Bruxelas e São Petersburgo, muitos contratados pela operadora Thomson. "Temos medo, aqui não é seguro", disse Leon, um jovem do País de Gales, no aeroporto.
;Calma mortal;
Um turista britânico relatou à televisão SkyNews que o ataque ocorreu por volta do meio-dia (8h de Brasília). "O meu filho de 22 anos acabava de voltar do mar (...) quando vimos a uma centena de metros à nossa esquerda o que pensávamos ser fogos de artifício", relatou Gary Pine, de Bristol, no sudoeste da Inglaterra. "Foi só quando começamos a ouvir o barulho de tiros que percebemos que era muito mais grave do que fogos de artifício".
"Houve uma correria em massa da praia (...) e algumas pessoas ficaram levemente feridas durante a confusão e o pânico", acrescentou. "Eu acredito ter ouvido vinte ou trinta tiros". "Agora estou na recepção com cerca de 200 outros clientes estrangeiros. Devemos ir embora? Para onde? Há uma calma mortal agora", indicou.
A embaixada da França em Túnis mandou um aviso por SMS a seus cidadãos para manter a vigilância e "limitar saídas e encontros". Em 2013 um homem-bomba se explodiu em uma praia em Sousse, mas sem deixar vítimas. Este atentado ocorre pouco mais de três meses depois do violento ataque contra o Museu do Bardo na capital, reivindicado pelo EI. Vinte e um turistas e um policial local morreram no ataque de 18 de março.
Depois do atentado ao museu, o setor estratégico do turismo teve resultados muito ruins em abril, com uma queda de 25,7% do número de turistas e do 26,3% das rndas em relação ao ano anterior. O turismo, que representa cerca de 7% do PIB da Tunísia e mais de 400 mil empregos diretos e indiretos, já sofre com as crises políticas e a ascensão do movimento jihadista que se seguiu à revolução de janeiro de 2011.
A ministra do Turismo, Salma Rekik, anunciou em abril "medidas excepcionais" para reforçar a proteção dos sítios e circuitos, bem como o controle nos aeroportos, estradas e todos os meios de transporte. A Tunísia, pioneira da Primavera Árabe, concluiu a sua transição com eleições no final de 2014, mas a sua estabilidade pode ser ameaçada pelo aumento da ameaça jihadista.
Desde a revolução de 2011, o país enfrenta o crescimento do movimento jihadista, especialmente na fronteira com a Argélia, onde há confrontos regulares entre homens armados e soldados. Dezenas de soldados e policiais foram mortos nos últimos quatro anos em confrontos e emboscadas, a maioria na região do monte Chaambi (centro-oeste).