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Vaticano e Palestina assinam histórico acordo sobre direitos da Igreja

O acordo expressa o apoio do Vaticano a uma solução "do conflito entre israelenses e palestinos no âmbito da fórmula de dois Estados"

Cidade do Vaticano, Santa Sé - A Santa Sé e o "Estado da Palestina" assinaram nesta sexta-feira (26/6) no Vaticano um histórico acordo sobre os direitos da Igreja católica nos territórios palestinos, que apoia a solução de dois Estados, enquanto Israel lamentou o tratado. O acordo foi assinado no Palácio pontifício pelo secretário para as relações com os Estados (ministro das Relações Exteriores), pelo prelado britânico Paul Richard Gallagher e pelo ministro palestino de Relações Exteriores, Riyad al-Maliki.

A preparação deste texto por uma comissão bilateral levou 15 anos. Embora o Vaticano se refira ao "Estado da Palestina" desde o início de 2013, os palestinos consideram que a assinatura do acordo equivale a um reconhecimento de fato de seu Estado, o que irrita Israel. Neste sentido, o ministério israelense das Relações Exteriores "lamentou a decisão do Vaticano de reconhecer oficialmente a Autoridade palestina como um Estado no acordo assinado hoje", afirmou o porta-voz da chancelaria, Emmanuel Nahshon, citado em um comunicado.

O tratado foi elaborado a partir de um acordo de base concluído em 2000 entre o Vaticano e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). O acordo expressa ainda o apoio do Vaticano a uma solução "do conflito entre israelenses e palestinos no âmbito da fórmula de dois Estados", como havia explicado em maio o monsenhor Antoine Camilleri, chefe da delegação da Santa Sé. Riyad al-Maliki considerou este um dia "histórico", porque o acordo "não seria possível sem a benção" do papa Francisco. O texto, ressaltou, define o "status especial da Palestina como o local de nascimento do cristianismo e como o berço das relações monoteístas" e garante o "status e a proteção dos locais santos" cristãos.

Para Gallagher, o "acordo mostra o progresso feito pela Autoridade Palestina nos últimos anos e, sobretudo, o nível de apoio internacional". "É a minha esperança que este acordo possa estimular o fim definitivo do conflito (israelo-palestino) que já durou tempo demais" e que a "solução tão desejada de dois Estados possa se tornar realidade o mais rápido possível". Gallagher também disse esperar que o texto "sirva de modelo para outros países majoritariamente árabes e muçulmanos", uma vez que a liberdade religiosa é comumente ameaçada no Oriente Médio. Para a OLP, este acordo converte o Vaticano no 136; país a reconhecer o Estado da Palestina.



Exercício delicado
A Santa Sé, que tem relações com Israel desde 1993, negocia desde 1999 um acordo sobre os direitos jurídicos e patrimoniais das congregações católicas no Estado hebreu, mas cada reunião semestral terminou em fracasso. O Vaticano realiza um exercício diplomático delicado entre Israel e os palestinos, uma vez que comunidades católicas estão localizadas em ambos os lados deste berço do cristianismo que ainda é importante local de peregrinação. Por um lado, quer evitar ofender Israel e despertar críticas relacionadas com o papel da Igreja na história do antijudaísmo na Europa. Mas sempre lutou para uma solução de dois Estados e um status especial para Jerusalém, cidade das três religiões monoteístas, e em favor dos direitos dos palestinos na Cisjordânia e Gaza.

O primeiro papa a afirmar que os palestinos formavam um "povo" e não simplesmente um grupo de refugiados foi Paulo VI em 1975. Em 1987, João Paulo II nomeou pela primeira vez um árabe palestino como patriarca latino em Jerusalém, o bispo Michel Sabbah, uma voz forte para lembrar a opressão sofrida pelos palestinos sob a ocupação israelense.

No mesmo ano, ele recebeu o presidente da OLP, Yasser Arafat, no Vaticano. O início do processo de paz entre palestinos e israelenses levou a Santa Sé a estabelecer relações com Israel em 1993 e com a OLP em 1994. Paulo VI em 1964, João Paulo II em 2000, Bento XVI em 2009 e Francisco em 2014 visitaram a Terra Santa.

Durante a sua visita, Francisco chegou a fazer uma parada improvisada no lado palestino do muro de separação, um gesto que foi mal recebido por Israel. Pouco depois, ele recebeu no Vaticano os presidentes israelense Shimon Peres e palestino Mahmoud Abbas para uma "oração pela paz". Em maio, na Praça de São Pedro, onde se agitaram bandeiras palestinas, ele canonizou na presença de Abbas as primeiras santas palestinas, Mariam Bawardi (1846-1878) e Marie-Alphonsine Ghattas (1843-1927), em homenagem e apoio aos cristãos árabes palestinos.